Não, nós não estamos!
Por Desirée Ruas – Jornalista, especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade
Em um evento realizado recentemente pelo Procon-MG para comemorar os 10 anos do Programa Procon Mirim foi debatida a importância da educação para o consumo no ambiente escolar. Na ocasião falamos a respeito dos apelos para o consumo sobre as crianças e o papel das famílias nesse contexto. Participando do debate perguntei ao auditório lotado: as escolas, públicas ou privadas, estão sintonizadas com as questões ambientais de nossa cidade? Elas incentivam seus alunos a participem de ações contra a devastação das últimas áreas verdes existentes? Estão engajadas na luta contra a mineração em áreas estratégicas para o abastecimento de água na região metropolitana de Belo Horizonte? Estamos levando nossos alunos para participar de audiências públicas que discutem questões socioambientais importantes para nossa cidade? Perguntei, sem esperar resposta, apenas como reflexão. “Não, nós não estamos!”, responderam constrangidos educadores e representantes de órgãos governamentais ligados à educação presentes ao evento.
Mas, por que, afinal, não estamos fazendo isso? Por que pensamos educação para o consumo desvinculada da educação para a sustentabilidade, para os valores humanos e para a cidadania? Por que não estamos ensinando às crianças e aos adolescentes um olhar crítico e uma postura participativa para a transformação da realidade? Por que não estamos saindo dos conteúdos dos livros para os conteúdos reais da nossa sociedade? Estamos deixando de ensinar de forma prática a cultura de paz, a cidadania ambiental, a reflexão sobre a pressão da publicidade sobre nosso consumo e nossas escolhas. Precisamos refletir sobre o concreto que toma conta das cidades, apagando os poucos espaços verdes que ainda restam; sobre governantes que defendem interesses de grupos econômicos como construtoras e mineradoras e são responsáveis por prejudicar, de forma irreversível, a atual e as futuras gerações. Educação, justiça social, consumo consciente, infância saudável, alimentação, trânsito, uso coletivo dos espaços urbanos, construção de uma cidade mais verde e humana: tudo isso importa e está conectado.
Na Semana Mundial do Meio Ambiente, os veículos de comunicação vão falar sobre consumo, economia de água e geração de resíduos. Escolas vão intensificar os trabalhos sobre preservação ambiental e vamos lembrar como tais temas são importantes. Mas muitos vão olhar de fora, de cima, de outro ângulo, como se o problema não fosse nosso. Como se nós fôssemos de outro planeta, observando algo que não conhecemos.
Não, nós não estamos! Não estamos dando a atenção devida para os problemas da sociedade. Nós não estamos engajados o suficiente para garantir um futuro saudável para nossos filhos. Estamos deixando decisões importantes apenas nas mãos dos outros. Estamos renunciando ao nosso poder por comodismo ou falta de informação. É hora de ensinar uma lição importante para crianças e jovens, nas salas de aula e em casa: a defesa do ambiente se faz todos os dias, por todos nós. Fazemos isso em nossas conversas informais e em nossas ações cotidianas mas também nos espaços de discussão criados para isso, seja na escola ou nas petições online, nas passeatas ou no acompanhamento das ações do Legislativo e do Executivo, na leitura crítica da mídia e na escolha de nossos representantes. Nós não estamos engajados como deveríamos, mas podemos estar, na Semana Mundial do Meio Ambiente mas também nos outros dias do ano.
Foto: Estudantes da Escola Estadual Professora Maria Muzzi Guastaferro, na audiência pública em defesa da Mata do Planalto, uma área de 119 mil metros quadrados de mata atlântica, em março de 2015, na Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Publicado em 2 de junho de 2015
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Saiba mais sobre a colunista Desirée Ruas:
Sou jornalista, especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade, educadora ambiental, palestrante e ativista da infância. Atuo como multiplicadora em educação para o consumo desde 2004 divulgando temas como educação, mídia, cidadania e sustentabilidade. Moro em Belo Horizonte e faço parte da Rede Brasileira Infância e Consumo desde sua criação. Na Rebrinc pude me conectar a pessoas e movimentos que informam, refletem, questionam e inspiram pela construção de uma cultura do cuidado e da paz, pela infância e por todos nós.
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Texto feito especialmente para o site da Rede Brasileira Infância e Consumo, Rebrinc. Caso queira reproduzi-lo, pedimos que mencione a fonte e o autor, com link para o site. Ajude-nos a valorizar os autores e a divulgar o nosso trabalho pela infância.