Saiba como foi a 1ª Feira de Trocas de Brinquedos de Conselheiro Lafaiete
Por Corinne Julie Ribeiro Lopes* – Advogada e gestora social
“Consumismo infantil na contramão da sustentabilidade – Era uma vez, uma criança que consumia muito. “Eu quero aquilo. Eu quero isso” – dizia ela toda vez que ia ao supermercado com a mãe. Então, graças a Deus, um dia ela percebeu que ela estava prejudicando o mundo e a ela mesmo e pensou sobre isso. Ela decidiu que isso não era legal e ela parou e hoje ela não consome mais e o mundo se tornou um lugar melhor”. – Isadora, 8 anos.
Com inspiração nessa história e em outros importantes relatos, foi realizada a 1ª Feira de Trocas de Brinquedos de Conselheiro Lafaiete. Iniciativa importante, mas ainda muito tímida no contexto atual de supervalorização de uma cultura de shopping centers, essa feira de trocas foi idealizada a partir do entendimento e da importância dada à necessária provocação da reflexão sobre o lugar que o consumo ocupa em nossas vidas, no momento atual.
Se no mundo moderno, o consumo foi pensado sob um viés; no mundo contemporâneo, algo foi rompido e o que se tem presenciado nos últimos 60 anos é que as pessoas vivem para consumir, e não, consomem para viver. O consumo é uma atividade básica, primária do ser humano, mas não precisa ser a experiência central na vida das pessoas. Não precisa ser o centro da experiência subjetiva contemporânea.
Com a finalidade de se discutir o excesso de consumo, articulei debates com alunos do curso de Pedagogia e Educação Física sobre a temática na Faculdade Santa Rita, de Conselheiro Lafaiete, e escrevi um projeto de ocupação de um espaço público da cidade para a realização de uma feira de trocas.
Assim, nasceu a 1ª Feira de Trocas de Brinquedos de Conselheiro Lafaiete, espaço de discussão e reflexão sobre o consumo, apoiado pela política pública de cultura da cidade. No dia 10 de outubro de 2015, das 13h às 17h, contando com cerca de 20 voluntários (fora os que, anonimamente, nos ajudaram na divulgação, na torcida, na crença de que tudo daria certo), aconteceu na cidade mineira um importante evento de crítica ao consumismo. Passaram pela feira cerca de 100 pessoas, o que foi uma conquista, para uma cidade onde o dinheiro circula de forma fácil e sem muita reflexão. Levaram histórias para contar…
Com o substancial envolvimento de minha própria família, pude perceber o quanto o convite pareceu ainda inusitado a alguns pais que foram à feira, mas já conversavam com seus filhos sobre o que iriam comprar logo em seguida, em comemoração ao Dia das Crianças. Inusitado a outros, que estavam retornando das ruas com suas aquisições (aparelhos telefônicos móveis, que de telefonia, pouco tem) e passaram para conhecer um pouco da proposta.
Mas percebi também envolvimento e crescimento. Dentre as importantes sugestões para as próximas feiras, ficou registrada a importância de se pensar na realização de uma feira de troca de roupas e calçados infantis e a ideia de que as doações que forem recebidas no dia de uma próxima feira sejam feitas na presença das crianças doadoras.
O evento, em sua primeira de muitas edições, ainda não foi uma alternativa às compras do Dia das Crianças, mas, com certeza, pontuou uma interrogação na cabeça de alguns pais que, para dialogarem com o evento, precisaram abstrair de valores materiais e construções de gênero, a respeito dos brinquedos de seus filhos.
Ficará, também um gostinho da Feira, nas mãos das crianças que receberão os brinquedos doados – que farão parte dos brinquedos arrecadados para o Natal Rural de Conselheiro Lafaiete, irão para comunidades carentes de Conselheiro Lafaiete e que serão entregues às crianças do Lar de Maria.
Reflexão, sustentabilidade e compartilhamento. Que venham outras Feiras de Trocas!
Fotos: Corinne Lopes
Publicado em 21/10/2015
* Saiba mais sobre a colunista Corinne Julie Lopes
Meu nome é Corinne Julie. Sou de Conselheiro Lafaiete, moro atualmente em Belo Horizonte mas já visitei e morei em outros mares e montanhas… Assim como o significado do meu nome, sou cor, magia e alegria. Amante de livros, fotografias e boas viagens, encontrei na Rebrinc, espaço para algumas inquietações minhas. Sou advogada, gestora social e mediadora de conflitos. Sócia-fundadora do CEDECA MG (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente) e mestre em Educação, Gestão Social e Desenvolvimento Local. Acredito que boas ideias e várias atitudes podem mudar o mundo.
Fale com a autora: contato@rebrinc.com.br
Texto feito especialmente para o site da Rede Brasileira Infância e Consumo, Rebrinc. Caso queira reproduzi-lo, pedimos que mencione a fonte e o autor, com link para o site. Ajude-nos a valorizar os autores e a divulgar o nosso trabalho pela infância.
