Comunidades indígenas discutem o Guia Alimentar da População Brasileira
A pressão para o consumo de alimentos industrializados acontece também sobre as populações indígenas, ao contrário do que muitos imaginam. Para refletir sobre essa realidade, educadores participaram de uma oficina sobre alimentação e saúde. As escolhas de consumo cotidianas, leitura de rótulos, orgânicos e agroecológicos versus agrotóxicos, transgênicos e o Novo Guia Alimentar da População Brasileira 2014 foram os temas trabalhados pela integrante da Rebrinc, a bióloga Maluh Barciotte, com a comunidade escolar indígena na cidade de Olivença, no sul da Bahia. Com grande experiência na área da alimentação e da sustentabilidade, Maluh também participou da elaboração do Guia Alimentar de 2014.
A oficina Escolhas Alimentares e Saúde: pessoal, social e ambiental aconteceu no dia 24 de julho com a participação de professores, merendeiras, pais e mães de alunos do Colégio Indígena Tupinambá, de Sapucaieira, e do Colégio Indígena Tupinambá, de Acuípe de Baixo. A ideia da oficina foi da professora Cristhiane Ferreguett, da Universidade do Estado da Bahia. “Estamos realizando oficinas temáticas para estimular a leitura e a produção de escrita, bem como discussões sobre questões que interessam às escolas e comunidades indígenas”, explica Cristhiane, coordenadora da área de Leitura e Produção de textos do Programa de Iniciação Docente PIBID Diversidade. A oficina é uma ação do Projeto PIBID Diversidade, uma iniciativa para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica.
“A oficina Escolhas alimentares e saúde: pessoal, social e ambiental foi muito produtiva. Apesar das crianças não serem o público do nosso trabalho, inicialmente trabalhamos com os pequenos que estavam presentes. De modo geral, observamos que elas têm bons hábitos alimentares e nenhuma apresentava sinais de obesidade”, explica Cristhiane. As crianças refletiram sobre a importância da alimentação saudável e os malefícios causados pela comida industrializada.
Após o trabalho com as crianças, foi a vez dos adultos refletirem sobre o que é comida de verdade. Maluh trabalhou com base na obra de Michael Pollan. O autor critica as dietas ocidentais focadas em nutrientes e não em alimentos de verdade. Em grupos, os educadores conversaram sobre os “10 passos para uma alimentação saudável”. Os perigos dos agrotóxicos para a saúde das pessoas e do ambiente também entraram na discussão.
Entusiasmados com os debates da oficina, os educadores indígenas sugeriram a produção de um “Guia Alimentar da População Indígena”. Satisfeita com o resultado, Cristhiane conta que uma nova reunião em agosto irá discutir um modo de fazer uma produção escrita coletivamente sobre o assunto.
Maluh ressalta que há grande sintonia entre a cultura indígena e muitos dos princípios e diretrizes que constam do Guia Alimentar. São eles o cuidado com o solo, água e produção limpa e sustentável; a valorização dos alimentos frescos e não processados industrialmente; compartilhamento das refeições e valorização do “comer em grupo” e da valorização do momento das refeições; valorização dos nossos alimentos tradicionais e regionais, entre outros.
“O encontro foi um momento fantástico de reflexão sobre a importância das nossas culturas tradicionais indígenas na alimentação de qualidade para nossas crianças e nossa população”, comenta Maluh. “Foi o plantar de uma semente. O início de uma conversa que com certeza trará muitos frutos para as comunidades indígenas do sul da Bahia, das comunidades indígenas de forma geral e para a população brasileira, principalmente das nossas crianças”, finaliza.
Fotos: Arquivo da oficina
Publicado em 29/07/2015 / Jornalista: Desirée Ruas – Rebrinc