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Como a Áustria preparou suas crianças contra a pandemia

Como a Áustria preparou suas crianças contra a pandemia

 

Por Ana Dietmüller – Graduada em Direito, colunista pela Áustria no Blog colaborativo Brasileiras pelo Mundo e integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo

Vivemos aqui na Áustria um momento bem diferente do vivido atualmente no Brasil. É preciso que os brasileiros vejam a experiência dramática de países como Itália, Espanha e Estados Unidos e sigam em isolamento máximo para evitar o colapso do sistema de saúde e milhares de mortes.

Na Áustria, as coisas estão mais serenas. Já faz um mês que o país está em confinamento total. Quanto às crianças, a preparação contra a pandemia foi feita pelas escolas país afora. No mês de janeiro, foi solicitado ao corpo docente do país que intensificasse as orientações sobre higiene, como lavar as mãos contra o coronavírus e as regras de distanciamento. Foi preparado material didático para que as crianças que ainda não têm como manejar online (caso das Primeiras Séries, por exemplo, em que não houve tempo de alfabetizar completamente, pois faltaram letras a aprender) não percam o contato com o aprendizado. Veio, inicialmente, um caderno de atividades e, ao longo do mês, outro, com exercícios de alemão (escrita e leitura), matemática, música, educação física e artes manuais. Todo o conteúdo pronto foi entregue na escola, que tem um ponto de coleta do lado de fora do prédio, onde se deposita o material.

Vejo que as conversas na escola a respeito do assunto deram resultado porque meu pequeno, o Chiquinho, que tem sete anos de idade, quando lava as mãos, conta até 20 e sempre nos diz que a professora pediu para lavarmos muito bem. Ele conta também que, quando o Corona “acabar”, poderemos visitar a vovó de novo e ir nadar.

Nós, como pais, não tivemos tempo de prepará-lo nesse nível, então, agradeço o trabalho heroico das professoras e dos professores país afora. E o que mais me chamou a atenção foi o pedido, vindo da escola, para que não exigíssemos demais das crianças. Pediram que respeitássemos seu tempo e ritmo, pois a casa não é a escola e pai e mãe não são, classicamente, professores. Se a criança não quisesse fazer nada, que fosse respeitado; se só quisesse desenhar ou cantar ou se exercitar, que fosse respeitado. A criança precisa brincar e os pais também precisam se ocupar com as demais tarefas. Isso me marcou bastante, porque há a compreensão mútua de que a situação é extrema.

Na mesma esteira, aqui na Áustria, o Presidente da República, em sua fala à nação, quando do início do isolamento, agradeceu especialmente às crianças pela paciência de não mais poderem ver seus avós e nem seus amiguinhos todos os dias por um longo período. Graças aos planos de contenção, já há medidas de retorno gradual, mas os pequenos permanecerão em casa (ensino à distância) até segunda ordem. Os jovens que precisam prestar o equivalente ao nosso vestibular retornam no meio de maio. As aulas serão ministradas nos ginásios de esportes, com distância regulamentada e utilização obrigatória de máscaras.

Já que todas as medidas sanitárias foram adotadas a tempo e respeitadas por 95% da população, já temos mais curados do que a soma de infectados e óbitos. Nosso sistema de saúde está preservado e inclusive acolhendo casos graves da Itália e da França. Os pequenos comércios, com até 400 m² (desde que todos usem máscara, haja material de desinfecção nas entradas e se respeite um número limitado de consumidores a entrar) abriram no dia 14 de abril. Se continuarmos disciplinados e com os casos contidos, dia primeiro de maio abre o grande comércio. De forma muito lenta e cuidadosa, as coisas começam a tomar um ar de normalidade.

 

Publicado em 16 de abril de 2020

Fotos: Arquivo pessoal

Chiquinho, de sete anos, segura um cartaz que foi resultado de uma iniciativa dos pais e mães para que as crianças pintassem arco-íris dizendo “vai ficar tudo bem”

Os professores reforçaram a importância de não pressionar as crianças para o estudo durante a quarentena

 

 

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