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Um bate-papo sobre infância, TV e cinema com Guilherme Fiúza Zenha

Um bate-papo sobre infância, TV e cinema com Guilherme Fiúza Zenha

Ele trabalha com produção audiovisual desde 1993. Foi assistente de direção de Helvécio Ratton, Tizuka Yamasaki, Sylvio Back, Sergio Machado e Nelson Pereira dos Santos. Como produtor executivo atuou em diversos longas. Em 2014 estreou também na direção com O Menino no Espelho, com temática infantojuvenil, baseado na obra homônima de Fernando Sabino. Muito elogiado pela crítica, o filme é uma divertida viagem ao passado que mostra como era a infância no final da década de 1930, em Belo Horizonte. Na entrevista para o site da Rebrinc, o mineiro Guilherme Fiúza Zenha fala sobre infância, cultura, consumo e produções audiovisuais para as crianças.

Tem filhos? Qual idade?
Não tenho filhos. Costumo brincar que “Fui Criança!”

Como você avalia a questão da infância e do consumo nos dias de hoje?
Fala-se muito que a infância mudou e que ela é diferente hoje. Eu, particularmente, creio que a infância é a mesma. Nós, adultos, é que mudamos e, por conseguinte, mudamos o ambiente da infância: tiramos o espaço, criamos a tecnologia, segregamos as crianças em playgrounds (espaço insípido e sem possibilidade de intervenção por parte das crianças) e as levamos para o consumo. E com isso o “ser” parece não ser prioritário e sim o “ter”!

Como você vê a questão da publicidade direcionada ao público infantil? Na sua visão, qual o impacto de se colocar um personagem querido das crianças na embalagem de um produto?
Particularmente acho legítimo uma criança ter o poster de seus heróis na parede do seu quarto ou até uma camiseta… Algo que seja próprio da criança. Mas licenciamento para gêneros de higiene pessoal e alimentos eu acho inadmissível. Estes itens são escolhas dos pais. Outra questão que considero completamente antiética é a venda casada de alimentos com brinquedos. A escolha do alimento é uma escolha dos pais e faz parte de todo o processo de educação. Além de tudo isso sou absolutamente contra a publicidade nos horários e canais voltados para crianças que “martelam”: compre… compre… compre. Isso para mim representa uma completa falta de compromisso com a sociedade, com a infância e uma prova de total falta de responsabilidade social. Outra questão que levanto é com relação à escolha dos brinquedos. Por que a criança não pode ter uma experiência lúdica nas lojas de brinquedos e experimentar o brinquedo, para assim poder optar? Creio que provavelmente ela vai optar pelo que é mais lúdico e não pela embalagem ou pelo que foi “imposto” pela publicidade. Além de permitir aos desenvolvedores de brinquedos sérios a possibilidade de igualdade de comparação de seu produto (educativo, lúdico, “mágico”) com os outros.

Pensando no filme O Menino no Espelho, como as produções audiovisuais podem ajudar na reflexão sobre a infância nos dias de hoje? O que as crianças ganharam e o que perderam e qual o balanço que você faz das mudanças que vivemos hoje?
Temos pouquíssimas produções voltadas para esse público, o que prova um descompromisso com nosso futuro e com nossa infância. Não se forma plateia a partir da idade adulta. Não se consolida uma cultura a partir da idade adulta. É na infância que se formam e consolidam os valores. Precisamos produzir muito mais! Acredito que as crianças ganharam um volume enorme de informação, mas perderam o  espaço de expressão e de criação… o quintal a rua, a cidade!

Como você analisa o conteúdo infantil hoje disponível na TV aberta e por assinatura?
O conteúdo na TV aberta praticamente inexiste, salvo na TV pública. Mas o volume ainda é muito aquém do necessário.  Parte disso é bom pois como os canais “comerciais” deixaram esse “público alvo” após a regulamentação da publicidade infantil, abriu-se uma possibilidade enorme para a TV pública ter mais público e para este viabilizar uma quantidade de produção de maior qualidade. Quanto à TV por assinatura vejo algumas produções de qualidade, mas a maior parte não passa de absoluto “entretenimento”.

Qual seria o caminho para financiar produções para crianças sem  incentivar o bombardeio publicitário sobre elas?
Políticas públicas voltadas para a formação de um público compromissado e com a formação de plateia com forte senso de cidadania. E por parte dos canais especializados em conteúdo infantil, um compromisso maior com a responsabilidade social e não apenas com os resultados financeiros e de audiência.

Está com algum projeto relacionado à infância atualmente? O que tem vontade de fazer nesse sentido?
Estou trabalhando na adaptação de A Droga da Obediência, livro de Pedro Bandeira. Uma produção infantojuvenil que trabalha no questionamento do uso de drogas de controle da personalidade. Creio ser um assunto de grande relevância.

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 Imagens: Gustavo Baxter/Alicate. 

No alto: o  diretor Guilherme Fiuza Zenha durante as filmagens de O Menino no Espelho

Acima: O ator Lino Facioli e o diretor Guilherme Fiuza Zenha durante as filmagens de O Menino no Espelho