Papai Noel deve ou não trazer um iPad?
Quantas cartinhas o Papai Noel já recebeu esse ano solicitando um iPad de presente? Uma mãe escreveu para uma coluna* de um jornal norte-americano questionando se o Papai Noel poderia negar o pedido, já que ela acha que há muitos motivos para manter as crianças afastadas das telas. Ela prefere que seus filhos, um casal de gêmeos de oito anos, ocupem seu tempo brincando na agradável rua onde moram, com os amigos, tocando piano ou conversando do que colados em uma tela. Ela pergunta como explicar para as crianças, que ainda vivem na magia do Papai Noel, que o bom velhinho não vai trazer o presente que foi pedido. E se vale a pena travar uma luta contra as crianças controlando o tempo que elas ficam nas telas e se as crianças são capazes de limitar o próprio tempo de uso dos aparelhos.
Vários leitores mandaram respostas para a mãe questionando ou apoiando sua relutância em dar um iPad para os filhos (ou permitir que o Papai Noel dê). Foram levantadas questões como o preço de um iPad, a pouca idade das crianças, os prejuízos à criatividade, à imaginação, ao contato com outras crianças e com o ambiente real, os riscos físicos e psicológicos ao desenvolvimento infantil. Muitas famílias contam que têm seus notebooks, tablets e iPads para usos esporádicos e que o contato das crianças com as telas é bem regrado. Para outros, os aparelhos permitem que se aprenda mais e, como estamos em uma época em que as crianças já estão imersas na tecnologia, inclusive na escola, o melhor caminho seria ensinar a usar e limitar o tempo de uso.
As opiniões se dividem mas o consenso é que praticamente todas as crianças querem um tablet ou iPad, mesmo que seus pais não possam comprar um. E além da pressão de amigos da escola e uma competição para ver quem tem o aparelho mais moderno, as crianças e os adolescentes vivem cada vez mais imersos nos contatos virtuais e nos jogos. Esmagar doces passou a ser mais divertido do que brincar e interagir no mundo real!
Mas uma preocupação concreta é também a dificuldade dos pais em saber o que as crianças e os adolescentes estão acessando. Permitir que os iPads e celulares das crianças tenham acesso à Internet é dizer que todos os conteúdos ali disponíveis podem ser vistos por elas e que isso não prejudica a infância. Mesmo que os pais não pensem assim sua atitude em permitir que as crianças estejam na Internet é uma prova dessa permissão. Quem acha que a web não é lugar para crianças se esforça para restringir o seu acesso. Essa é uma questão bem negligenciada nos dias de hoje.
Com as crianças mais velhas, alguns pais preferem acompanhar de perto o uso e baixar alguns jogos e ou conteúdos que elas julgam adequados, mas não deixam o navegador funcionando, impedindo o acesso a sites. Mas é fundamental perguntar: de qual faixa etária estamos falando? Em que idade deve-se evitar o uso das telas? Quais as vantagens e as desvantagens do uso? A partir de qual idade os aparelhos podem ser úteis e benéficos? As crianças precisam de um tablet só para elas? Que outros presentes mais interessantes as crianças podem ganhar do Papai Noel?
Vale lembrar da recomendação da Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria que crianças de 0 a 2 anos não devem ter nenhuma exposição à tecnologia, crianças de 3 a 5 anos devem ser limitadas à uma hora de exposição por dia e crianças e adolescentes de 6 a 18 anos devem ser restritas a duas horas por dia (AAP 2001/13, CPS 2010). Crianças e jovens usam de quatro a cinco vezes a quantidade de tecnologia recomendada, provocando consequências graves e, em muitos casos, colocando suas vidas em risco (Fundação Kaiser 2010, Active Healthy Kids Canada 2012). Para saber mais sobre os riscos do uso de telas por crianças, clique aqui.
* Motherlode é uma coluna do jornal The New York Times. Apesar da distância, o que os pais de lá comentam são questões bem parecidas com as nossas aqui no Brasil: a invasão dos iPads na vida de crianças de várias idades e os consequentes prejuízos.