Fórum Criança e Meio Ambiente acontece no Rio de Janeiro
Por Tatiana Zotes, especialista em educação infantil PUC-Rio e integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo
Entre os dias 10 e 12 de outubro foi realizado o XII Congresso de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro. Durante o evento, as atenções não ficaram somente nas discussões sobre emergências neonatais ou outras questões da área médica. O Fórum Criança e Meio Ambiente, que fez parte da programação do Congresso, contou com a presença de especialistas em várias áreas com um objetivo comum: melhorar a qualidade de vida das crianças e valorizar seu contato com a natureza.
O pediatra Daniel Becker abriu o Fórum com uma reflexão sobre a infância: “O verdadeiro caráter de uma sociedade é revelado pela forma com que ela trata suas crianças”. A frase de Nelson Mandela nos faz questionar o que tem acontecido com a criança de hoje. Uma infância terceirizada, com péssimas condições alimentares, onde a criança é privada de brincar livremente, tem sua rotina preenchida por atividades direcionadas por adultos ou ainda tem a companhia quase integral dos tablets e celulares.
Para o médico, confinadas nos apartamentos e até mesmo nas escolas, as crianças não têm oportunidade de estar em contato com a natureza, de experimentar e vivenciar a apreciação de algo que faz parte dela. A natureza também perde. A criança, que deveria ser sua guardiã, não pode dar valor e cuidar daquilo que ela não conhece e não ama.
A educadora e professora da Uni-Rio, Lea Tiriba, enfatizou o que é o bom para a criança e a educação como direito à alegria. O bom é a criança ser atendida em suas necessidades. E quais seriam? Uma criança de um ano que chora ao se separar de sua mãe na entrada na creche não está, necessariamente, tendo o que é bom para ela naquele momento.
O Fórum ainda contou com a presença da paisagista Cecilia Herzog que mostrou como é possível transformar cidades em prol da natureza e do seu uso dentro dos centros urbanos por suas comunidades. Ela mostrou como a revitalização de áreas antes degradadas favorecem a saída das famílias de suas casas para o convívio social, intensificando ainda mais a intimidade e aprofundando os laços entre seus membros. Para ela, a escola de hoje também precisa ser modificada para acolher esta criança com os espaços necessários a este contato com a terra, com as árvores e a água, sem que nos remeta as prisões com suas grades e salas de confinamentos.
O Instituto Alana também marcou presença no Fórum. Lais Fleury, coordenadora do Projeto Criança e Natureza, ressaltou que a conexão precisa passar pela experiência corporal, afetiva e emocional. Sem isto, não há beneficio para a criança e muito menos para o meio ambiente. Todos os que têm contato direto com as crianças devem incentivá-las e proporcionar o brincar ao ar livre para que a criança aproveite seus benefícios que, segundo o Projeto, não são poucos. Dentre eles, destacam-se a diminuição da ocorrência de miopia em adolescentes e a apresentação de sintomas mais moderados de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
O que parece óbvio, ou parecia há tempos atrás, acabou virando pauta de discussão para que possamos dar um passo atrás e resgatar uma infância essencial a toda humanidade.
Estamos no mês das crianças. Esperamos que os parques estejam cheios, as praias com pequenas pegadas na areia e repletas de castelos. Que as crianças tenham cada vez mais brincadeiras em espaços ao ar livre. Que todos possamos abraçar este movimento de resgate do contato da criança com a natureza, ação tão necessária para uma infância mais feliz.
Publicado em 12 de outubro de 2016