Evento do Procon-MG discute ética e consumo em Belo Horizonte
A infância, a mídia e os apelos para o consumo estiveram em pauta no IV Seminário de Educação para o Consumo do Procon-MG. O evento reuniu especialistas de várias áreas para debater o tema “Ética e Consumo na Contemporaneidade” em Belo Horizonte, nos dias 21 e 22 de setembro.
A representante da Rede Brasileira Infância e Consumo, a jornalista Desirée Ruas, participou como mediadora do painel “Mídia, Cultura do Consumo e Construção da Subjetividade na Infância”. Desirée enfatizou a importância da sociedade refletir sobre os prejuízos do consumismo na infância. “Não apenas o consumo de produtos ou alimentos nos preocupa mas também o consumo de conteúdos. O fim da relação entre faixa horária e faixa etária do sistema de Classificação Indicativa é muito preocupante e mostra como nossas crianças estão sujeitas à adultização. Jornais impressos sensacionalistas e programas televisivos policialescos também são prejudiciais à infância”, advertiu.
“Por falar em ética, precisamos de uma ética do cuidado, pois a infância precisa de uma proteção integral. Isso significa dar à criança, além de alimentação, abrigo, educação, saúde e outras demandas, a proteção contra todo tipo de ação ou conteúdo que desrespeite a sua condição de criança. Como pensar a ética do consumo quando vemos que ainda temos empresas direcionando suas estratégias de marketing para as crianças, temos publicidade de cerveja na TV, publicidade de cigarro nos pontos de venda, incentivo à alimentação não saudável para crianças, enfim, várias práticas que vão na contramão da ética”, alertou Desirée Ruas.
Muitas infâncias
As psicólogas Marina Otoni e Iza Rodrigues, também participantes do painel, falaram sobre a infância e a relação da criança com o mundo do consumo. Iza Rodrigues falou sobre as infâncias, no plural, que é a condição concreta de cada criança. Lembrou também que todas as crianças são afetadas pelas decisões políticas de um grupo e de uma sociedade. “A mídia afeta cada infância de uma forma diferente: a menina branca da zona urbana e o menino negro da zona rural vão ser influenciados de formas diferentes. E a singularidade de cada criança é definida pelas relações sociais”, enfatizou Iza. A diluição das fronteiras entre o mundo adulto e o infantil com conteúdos adultos disponíveis para crianças também foi mencionada na fala da professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais.
Já Marina Otoni lembrou da importância do estímulo à brincadeira. “O brincar ajuda a criança a compreender o mundo à sua volta”, frisou. Ela alertou que “cada vez mais a cultura do consumo vem tirando das crianças o fantasiar e o criar porque os brinquedos vendidos normalmente são muito complexos e já vêm prontos”.
Consumo e Juventude
No painel “Jovem Consumidor: Aspectos Identitários e Éticos”, a psicopedagoga Cristina Silveira explicou como os jovens buscam seus grupos de pertencimento com base no consumo e nas marcas. “O adolescente vive uma crise de identidade e de instabilidade e a construção da identidade acontece com base no que está ao seu redor. E a pressão para o consumo é muito decisiva”, comentou.
Para o especialista em Comunicação e professor de Publicidade, Admir Roberto Borges, a publicidade infantil está com os dias contados. Autor do livro Propaganda e Consumo Infantil, Admir frisou que “alimentos como refrigerantes estão em risco de extinção porque as crianças desde o jardim da infância já estão sabendo sobre alimentação saudável”.
Ele também falou dos jovens youtubers que ganham até 100 mil reais por mês com vídeos que têm grande influência sobre crianças e jovens. Os vídeos costumam ser tendenciosos, têm pouca reflexão e se valem do bom humor e da interatividade. “É preocupante o poder que eles têm sobre crianças e jovens. É urgente a necessidade da regulação da publicidade no Youtube”, disse mencionando a recente ação do Ministério Público Federal de Minas Gerais sobre o caso da publicidade nos vídeos do Youtube.
Educação para o consumo
Além dos dois painéis dedicados aos temas infância e juventude, o Seminário de Educação para o Consumo do Procon-MG, órgão do Ministério Público de Minas Gerais, realizou outros quatro painéis sobre a questão da ética na sociedade e o direito do consumidor. O tema consumo na terceira idade também foi debatido na ocasião, assim como a formação dos valores, o uso das tecnologias e o papel da família e da escola no contexto da educação para o consumo ético.
A maior parte do público do seminário é formada por educadores. O órgão mantém há dez anos o programa Procon Mirim que leva informações sobre direito do consumidor para escolas em todo o estado de Minas Gerais, contribuindo para a reflexão sobre o consumo no ambiente escolar.
Publicado em 27 de setembro de 2016