Como o assédio para o consumo afeta a infância?
O tema assédio ganhou grande repercussão na mídia brasileira nas últimas semanas. O #PrimeiroAssédio reuniu milhares de depoimentos de mulheres sobre abusos sexuais sofridos ainda na infância.
No dicionário encontramos o termo assédio relacionado a operações militares em frente ou ao redor de uma praça de guerra. O assédio significa cercar, sitiar, fazer uma perseguição insistente com o objetivo de conseguir algo.
Além do crime do assédio sexual contra crianças e adolescentes e que deixa marcas por toda a vida, um outro tipo de abuso vem sendo discutido há alguns anos. Afinal, as crianças não são assediadas por conteúdos da mídia e por campanhas publicitárias que querem seduzir para o consumo? Na TV, em pontos de venda, nos intervalos dos desenhos animados, na porta das escolas, nos jogos eletrônicos, por toda a internet: são inúmeras estratégias pensadas para convencer para o consumo, para o materialismo, para a cultura do excesso, do desperdício, dentro de uma lógica insustentável e materialista, que se se aproveita da deficiência de julgamento e experiência da criança.
De que maneira o constante apelo mercadológico sobre as crianças interfere na infância? É possível uma comunicação mercadológica que cumpra a legislação que proíbe o direcionamento da publicidade para a criança? Como a sociedade por participar dessa discussão mais ativamente?
Grupos, movimentos e instituições se debruçam sobre o tema para incentivar a sociedade a refletir sobre o consumismo, sobre o encurtamento da infância, sobre a erotização precoce, e sobre os valores que são passados para as crianças nos dias de hoje.
Para Regina de Assis, consultora em educação e mídia, crianças e adolescentes contemporâneos, que vivem na sociedade de mercado e consumo, vêm sofrendo ameaças e prejuízos, com graves consequências para a saúde, a segurança e o bem-estar. “Os desafios e as responsabilidades para o enfrentamento destes problemas devem ser compartilhados por famílias, educadores, publicitários, empresas e poderes constituídos”, avalia a educadora. Regina participa ativamente da Rede Brasileira Infância e Consumo que tem como missão “despertar a sociedade, especialmente a comunidade escolar e os que produzem conteúdo nas mídias, para as consequências do consumismo na infância”.
Nádia Rebouças, consultora e publicitária, avalia que a comunicação sempre chegará às crianças, mas é preciso que os profissionais da área mudem o direcionamento de suas estratégias. “A comunicação, inclusive, pode educar, passar valores e até mudar a cultura. O ponto a ser questionado é a comunicação mercadológica que tem como foco educar o consumidor do futuro. Ela seduz e vai educando na perspectiva do ter. A proposta é que essa comunicação fale e venda para os pais e veja as crianças na mídia com a delicadeza que elas merecem como seres em formação”, enfatiza. Segundo Nádia Rebouças, é preciso que a sociedade perceba as consequências da comunicação exagerada para o consumo infantil, da pressão sobre os pais, da sensualização precoce e a perda da infância.
Além de Nádia Rebouças e Regina de Assis, o jornalista e professor Marcus Tavares, da revistapontocom, e a psicóloga Laís Fontenelle, do Instituto Alana, participam no dia 17 de novembro às 20h do ciclo Criança e Assédio no debate Infância, Publicidade e Consumo – Desafios dessa relação, no Rio de Janeiro, no Centro Cultural Midrash. As inscrições são gratuitas e limitadas.
Desirée Ruas – Jornalista/Rede Brasileira Infância e Consumo