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A Páscoa e a escola na Áustria

A Páscoa e a escola na Áustria

 

Por Ana Dietmüller* – Graduada em Direito, Editora Geral no Blog colaborativo Brasileiras pelo Mundo  e integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo

 

Como os leitores já devem saber, vivo na Áustria há 6 anos e é daqui que compartilho todas as experiências vividas com a infância, pois meu pequeno nasceu e está se criando aqui.

Hoje, então, descreverei um pouquinho como se comemora a Páscoa por aqui e qual é o papel das escolas nesse processo inclusive.

Meu filho está no último ano do Jardim de Infância. Todas as festividades, sejam religiosas ou não, são introduzidas às crianças com muita criatividade ao mesmo tempo que com muita simplicidade. Explico-me!

Quando se aproxima a época de Páscoa, o Jardim solicita aos pais que os aluninhos tragam duas cascas intactas de ovos de galinha: é a tradição dos ovos “assoprados” (vide foto). E o que vem a ser isso? Um costume local antigo, que consiste em se furam as extremidades dos ovos, a fim de assoprá-los para afastar a clara e a gema. Resta a casca, que é pintada e decorada pelas crianças e se transforma em enfeite (vide foto). Há pessoas que decoram as árvores dos seus quintais com essas cascas pintadas, como se fossem árvores de Natal. É muito bonito.

Esse é, então, o único pedido que o Jardim faz às famílias durante esse período: duas cascas de ovos assoprados e só!

A Páscoa na Europa cai na primavera e, em razão disso, as crianças também são estimuladas a plantar mudinhas (vide foto), a cuidá-las e fazê-las florescer. Através disso, é ensinado a elas o significado de renascimento, de renovação, de novo tempo. As salas de aula estão todas decoradas com coelhinhos, pintados e recortados pelos aluninhos. A escola inteira está em clima de Páscoa.

Além disso, o governo do nosso Estado distribui um caderno explicativo sobre a Páscoa (vide foto) e a primavera, as tradições, canções típicas, e o significado de cada símbolo, como o Círio Pascal, o que é o Domingo de Ramos, a Sexta-Feira Santa, o Domingo de Páscoa. Não se trata de doutrinação religiosa e sim um esclarecimento histórico, pois traz também receitas tradicionais, explicação de por que se tem um coelho e não uma galinha como símbolo da época, enfim.

Embora a Áustria seja, sim, um país católico, a sociedade é multicultural, ou seja, há pessoas de todas as partes do globo morando aqui e isso também é uma forma de integrá-los na sociedade onde agora vivem, um pouco de informação sobre ela e seus costumes.

Já referi em artigo anterior que aqui o consumo não é desenfreado como percebo no Brasil, praticamente inexistem propagandas na TV estatal, não existem tetos de ovos de chocolate pelos mercados, e – menos ainda – preços exorbitantes.

É claro que as crianças ganham doces e chocolates, mas também ganham ovos de galinhas, cozidos, com as cascas pintadas, o que também é uma tradição no país. Percebo que, embora se trate de uma sociedade de mercado livre, ainda existe o cuidado oficial do Estado de se tentar transmitir às novas gerações o verdadeiro significado daquilo que estão festejando.

Meu pequeno não nos pede nada de Páscoa.

Ele sabe da “existência” do Coelho, que ele vem entregar coisas, que é época de ovos, mas não nos exige a compra de absolutamente nada. Isso pode mudar, é óbvio, pois ele tem apenas cinco anos de idade, mas lembro da pressão que eu já fazia com meus pais quando tinha a mesma idade para ganhar chocolates. Repito: aqui não existe propaganda voltada ao público infantil nas TVs públicas e, no Jardim, é proibido levar doces, guloseimas ou chocolates. Creio que essa combinação seja uma das explicações para que ele não tenha o chocolate, a compra, como fatores primordiais de celebração pascal. E, como mãe, confesso, é bastante satisfatório saber que ele ainda está protegido dos ataques de marketing.

Até a próxima!

 

Leia também:

O ritual de passagem do Jardim para a Primeira Série na Áustria

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Fotos: Ana Dietmüller

Colunista REBRINC - Ana Dietmuller

Saiba mais sobre a colunista Ana Dietmüller

Nascida em Porto Alegre, em 1974.

Graduada em Direito pela PUC, também de Porto Alegre/RS, em 1996; pós-graduada em Direito Internacional pela UFRGS, em 2008.

15 anos de experiência profissional, militando na advocacia corporativa. Solução, diplomática, de conflitos tanto judiciais quanto de relacionamentos interpessoais, é um diferencial.

Infância feliz, cheia de brincadeiras ao ar livre, na pracinha, com os amiguinhos do condomínio. Muita amarelinha, 5 Marias, bola e bicicleta; aniversários dentro do apartamento mesmo e docinhos feitos pela mãe e avó.

Adolescência inquieta, questionadora e de muito estudo, mas também, de muito cinema, passeio com as amigas, violão e muitas amizades.

Juventude de muito estudo e trabalho, mas, também, de muitas relações humanas, viagens e trocas de experiências.

Moradora da Áustria há quatro anos, casada com um austríaco e mãe de um austro-brasileirinho. Vida simples, mas em um mundo diferente, rodeado de educação, cultura, civilidade e muito investimento no ser humano, sobretudo na diversidade cultural.

Apaixonada por literatura e, por consequência,  amante das letras, aventuro-me a escrever minhas próprias linhas.

Meus interesses? História, literatura, filosofia, música, gastronomia, viagens, línguas, mas, principalmente, o ser humano!

Fale com a colunista pelo contato@rebrinc.com.br