Evento em Porto Alegre debate alimentação, educação e infância
Qual é o papel da família, da escola e da universidade na questão da alimentação infantil? Para buscar essa e outras respostas o evento realizado no dia 25 de junho na Universidade Federal do Rio Grande do Sul reuniu diversos especialistas e estudantes interessados no tema. O “V Seminário Universidade e Escolas – Os desafios de educar na contemporaneidade” é uma realização do Núcleo Interdisciplinar de Prevenção de Doenças Crônicas na Infância, da UFRGS.
O seminário também fez parte da programação dos “Eventos Colaborativos pela Infância – REBRINC pelo Brasil” que comemora os três anos da Rede Brasileira Infância e Consumo. A médica e coordenadora do Núcleo, Noemia Goldraich, integrante da REBRINC desde sua criação, enfatizou, na abertura do evento, a importância de uma rede como a Rede Brasileira Infância e Consumo para questionar o impacto da mídia sobre a alimentação das crianças. “Esta Rede é fundamental para todos nós que nos importamos com a saúde das crianças porque a publicidade está diretamente ligada ao consumo de alimentos processados e ultraprocessados que estão diretamente ligados ao sobrepeso e à obesidade, que estão na base de todas as doenças crônicas não comunicáveis”, frisou Noemia.
Mais de quatrocentas pessoas participaram do evento vindas da grande Porto Alegre e também de cidades do interior do estado como Ivoti, Montenegro, Caxias e Livramento. A grande maioria dos participantes é constituída por professores, nutricionistas, psicólogos, odontólogos, profissionais de educação física, assistentes sociais, acadêmicos de diferentes universidades, tanto de graduação, como de mestrado e doutorado, assim como a comunidade em geral.
Após a abertura institucional, aconteceu a palestra com Luiz Carlos Bombassaro, professor de Filosofia da Educação, da Faculdade de Educação da UFRGS: “A escola, a família, a ética e os valores morais no momento atual”. Na palestra foi ressaltada a importância da ética para viabilizar a convivência na sociedade, além de questões relacionadas ao respeito e à aceitação do outro como um ser diferente de nós, enfatizando também os desafios colocados pelas redes sociais.
Em seguida, aconteceu a mesa-redonda, coordenada pela pró-reitora de extensão da UFRGS, professora Sandra de Deus, “Passos e descompassos entre a escola e a família no dia a dia”. Marcelo Burgues, que trabalha na escola municipal de Educação Infantil Maria Marques Fernandes, situada na periferia de Porto Alegre, contou da sua experiência do dia a dia como professor. Ele falou da diferença entre a escola ideal e a escola real, de como é preciso se adaptar, conhecer a realidade dos alunos e da comunidade onde a escola se situa para tornar a escola necessária a esta comunidade, para que a comunidade a defenda e se torne sua parceira. A escola onde Marcelo trabalha se situa em zona de tráfico de drogas, onde frequentemente há confrontos entre diferentes quadrilhas de traficantes e entre eles e a polícia.
A segunda relatora desta mesa foi Tania Ramos Fortuna, uma autoridade nacional em brincar, professora de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação, que falou dos motivos que levam os docentes ao desgaste ou esgotamento profissional. Ela frisou que a família da escola de hoje é muito diferente da família que estávamos acostumados, é a família possível e precisamos nos adaptar a essa nova realidade. Lembrou também que, dentro das universidades, a questão do que resulta em pontos para a produtividade é predominante e norteia a maioria das ações.
O último relator desta mesa foi o professor José Roberto Goldim, chefe do Serviço de Bioética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que fez uma reflexão sobre as relações da escola com a família atual. E comentou como essas relações mudam em diferentes contextos sociais e em diferentes épocas.
À tarde, uma mesa-debate, sobre “A UFRGS e a comunidade: como está a troca de saberes?” na qual participaram a pró-reitora de extensão da UFRGS, Sandra de Deus; a coordenadora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, Adriana Itanajara Guedes; Noemia Perli Goldraich, coordenadora do Programa de Extensão de Prevenção de Doenças Crônicas não Comunicáveis nas Escolas de Educação Infantil da Rede Pública de Ensino de Porto Alegre; Patricia de Freitas Dias, diretora da Escola Municipal de Educação Infantil Humaitá, e Cirlene dos Santos Loureiro, mãe de gêmeas alunas da Escola Municipal de Educação Infantil Humaitá e Daiane dos Santos Moraes, mãe de um menino da Creche da UFRGS. No debate foi demonstrada a importância da interação entre a universidade, que detém o saber científico e a comunidade. A professora da escola enfatizou o papel da direção e dos professores, que precisam conhecer a comunidade para fazer com que a comunidade participe das atividades da escola. O consenso é que não há uma receita. Cada escola deve “descobrir” como atrair a sua comunidade.
Seguiram-se três rodas de conversa: “A criança como fumante passivo”, com o professor Paulo Maróstica, titular de Pneumologia Infantil da UFRGS e chefe da Unidade de Pneumologia Infantil do Hospital de Clínicas de Porto Alegre; “Guia Alimentar Brasileiro, uma ferramente que ainda não foi descoberta” com as nutricionistas Marina Dihl e Ana Luisa Scarpano, da UFRGS; “O trio que está colocando em risco a saúde de uma geração” , com as nutricionistas Luciana Hessel, Nilsa Petry e Regina Grings das Secretarias Municipais de Saúde de São Leopoldo e Canoas e a Oficina “Horta em pequenos espaços”, com Ingrid de Barros, professora da UFRGS.
Colaboração: Noemia Goldraich
Fotos: Divulgação