Educadores da Rebrinc questionam postagem de ministro da Educação
Uma foto, dois sorrisos, uma declaração e uma chuva de comentários. O ministro da Educação Cid Gomes divulgou no dia 12 de fevereiro de 2015: “Estive com a Xuxa hoje. Ela tem produzido excelentes materiais para o Ensino Infantil e se dispôs a colaborar com dois importantes projetos do Governo Federal: o Mais Creches e o Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa.”
A foto da ex-apresentadora de programas infantis ao lado do ministro da Educação gerou uma intensa reação de educadores de diversas partes do país, com mais de cinco mil comentários e dezesseis mil compartilhamentos. Integrantes da Rede Brasileira Infância e Consumo também se manifestaram no seu grupo de discussão e página do Facebook e nos perfis pessoais.
Regina de Assis, doutora em Educação e integrante da Rebrinc, foi entrevistada pelo jornal O Globo e comentou o assunto afirmando “temer que o encontro seja indício de mais um passo em direção à “mercantilização do ensino brasileiro”. ” O que me assusta é a ousadia e a falta de respeito com os educadores e pesquisadores brasileiros que não ganham dinheiro com o que fazem pela educação pública. Como é que agora um ministro de um governo que se diz popular contrata representantes do mercado, que prestam serviços a preços altíssimos e qualidade ruim? Criança brasileira não é baixinho. É um cidadão em processo de desenvolvimento que tem direitos consagrados na constituição federal, sendo prioridade nacional”, comentou Regina de Assis, ex-secretária municipal de Educação do Rio.
Reação em massa
O que motivou a reação dos integrantes da Rebrinc tem relação com a importância de se ter uma educação que inclua o questionamento do consumismo infantil. Enquanto a redação do Enem 2014 convidava a pensar sobre publicidade infantil, o ministro vai na direção contrária para o questionamento dos valores e do consumismo? Qual a contribuição da ex-apresentadora infantil que esteve, por décadas, à frente de programas infantis televisivos?, perguntavam os educadores.
A rede horizontal e colaborativa, composta por pessoas físicas, instituições e movimentos em defesa dos direitos de crianças e adolescentes diante das relações com o consumo, divulgou em sua página no Facebook: “A Rede Brasileira Infância e Consumo, Rebrinc, reúne educadores aptos a colaborar verdadeiramente para a reflexão sobre a educação que temos no país. Nessa discussão, não podemos deixar de lado a questão do incentivo ao consumismo infantil e dos valores passados pelos conteúdos da mídia nas últimas décadas. A Rebrinc defende uma educação que contribua para o desenvolvimento pleno das crianças e dos adolescentes e que incentive uma visão crítica dos modelos que são colocados pela televisão. Afinal, o que a mídia tem ensinado para nossas crianças? Vamos refletir? Sr. Ministro, convide a Rebrinc! Converse com os educadores espalhados por todo o Brasil!”
Integrante da Rebrinc, Leo Nogueira Paqonawta, escreveu: “Todos os ministérios – e mais ainda o Ministério da Educação – deveriam pautar suas políticas pelo que trata o Artigo 227 da Constituição Federal, que trata dos direitos das crianças e dos adolescentes como prioridade absoluta, como dever a ser cumprido por todos, especialmente no que diz respeito a “colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. O educador frisou a trajetória da ex-apresentadora como garota propaganda de um mercado que desrespeita os direitos da infância e da juventude.
Em nota, o MEC afirmou que a visita não implicou em nenhum tipo de parceria entre a pasta e a apresentadora. “A visita ocorreu em função da divulgação do novo CD ‘Xuxa só para Baixinhos 13’ e da Fundação Xuxa Meneghel. O MEC tem interesse em iniciativas que ajudem a desenvolver políticas públicas. Além disso, mantém o diálogo aberto com aqueles que se dispõem a contribuir”, afirmou a assessoria.
A ex-apresentadora infantil mantém há 25 anos uma instituição que atende crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade na comunidade de Pedra de Guaratiba, no Rio de Janeiro. Por 23 anos a Fundação Xuxa Meneghel teve como diretora Angélica Moura Goulart, que hoje é a Secretária Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
“Exemplo são as professoras de educação infantil, formadas em pedagogia que trabalham por amor se submetendo a um salário de R$890,00 pra educar crianças!”.
“Gente! Fala sério! A Xuxa faz parte da minha infância, nada contra. Mas vamos ser sinceros… O que a Xuxa entende de Educação Infantil e creches? No próprio Estado do Ceará temos um curso excelente de pós em Educação Infantil, na UFC, com mestres , doutores e maravilhosas pesquisas! Tanta gente boa, tanta experiência de sucesso! Por que não chamam professores que estão na sala de aula para ajudar? Nós, que estudamos e estamos com a prática do dia-a-dia, temos muito mais a contribuir!”
“Ministro, Xuxa é “cantora” e apresentadora de televisão, ela não é pedagoga, ela não é educadora. Se o senhor quer que seus projetos sejam eficientes e apresentem resultados, consulte quem entende do assunto. Educação não é festa de baixinhos, não é programa de televisão, não é brincadeira!”
Veja o post na página do ministro da Educação.