A escola que não fez nada
Colaboração: Clara Silva – Educadora e integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo
E neste caos que estamos vivendo em 2020, uma escola resolveu não fazer nada. Não mandou link. Não mandou tarefa para casa. Não pediu aos professores que fizessem vídeos, tampouco aulas online.
E as crianças como ficaram? Ficaram ótimas. Voltaram a ser criança como em outro tempo, outro lugar. Brincaram, desenharam, sofreram um pouco de tédio, tiveram tempo para pensar, para não fazer nada. Não tinham hora certa para acordar nem que correr para não perder a natação, o inglês, o balé e o piano.
Não se preocuparam com a entrega do dever. Que palavra tão forte. Dever.
Foi um tempo em que não tinham deveres, obrigações. Tinham liberdade. Podiam escolher, decidir o que iriam fazer. Falta de rotina. Talvez…Um pouco. Mas podendo fazer escolhas, ainda que orientadas pelos pais, tomaram as rédeas de suas decisões. Vamos brincar de quê? Baralho ou jogo de tabuleiro? Boneca ou bola?
Pela primeira vez, não se viram mudando de atividade a cada 40 minutos. Sim. A vida de uma criança nos dias de hoje é assim: a cada 40 ou 50 minutos trocam a atividade. Sem cerimônia. No meio da redação. No desenho inacabado, arrancado de suas mãos. “Na aula que vem, você acaba”, diz a professora. Ainda que a aula que vem seja só na próxima semana.
No final de tudo isto. Dois ou três meses depois, o que aconteceu?
Nada. Voltaram para a escola, felizes da vida. Mais maduros, sabendo escolher melhor, com uma experiência de ter os pais presentes, o dia todo em casa, no almoço e no jantar. Voltaram mais fortes enquanto família, enquanto pessoas. Prontos para um mundo melhor, menos veloz, menos egoísta, mais solidário, mais humano. Como sempre deveria ter sido.
Foto: Pixabay