E surge o convite: vamos criar uma rede?
No dia 19 de junho de 2013, algumas das pessoas que acompanhavam o projeto Criança e Consumo, de diversas partes do Brasil, se reuniram na sede do Instituto Alana, em São Paulo, para uma conversa especial: ali nascia a Rede Brasileira Infância e Consumo, Rebrinc. O primeiro encontro do grupo, que ainda não tinha um nome mas já se mostrava diverso e proativo, durou quatro horas e foi marcado por perguntas como: quem somos? Quantos somos? O que fazemos? O que queremos com a nova rede pela defesa da infância e da adolescência diante dos apelos ao consumo e do consumismo?
O convite para a formação da Rede surgiu do Instituto Alana, organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, criada em 2002 e que reúne projetos dedicados à infância. Um dos projetos é o Criança e Consumo. Multidisciplinar, foi criado em 2006 e vem, desde então, debatendo a publicidade e os prejuízos decorrentes da comunicação mercadológica dirigida às crianças. Suas ações jurídicas, de pesquisa, educação e advocacy contribuem para a formulação de políticas públicas e incentivam a reflexão por parte da sociedade civil.
Todas as pessoas convidadas já tinham uma relação antiga com a causa do consumo na infância. O desafio do grupo era pensar a formação de uma rede brasileira que reunisse mães, pais, educadores, gestores públicos, organizações e profissionais de diversas áreas com o interesse em atuar pela causa. Mas, para isso, era preciso conversar e chegar a um consenso sobre a forma de sua gestão e suas questões operacionais e, principalmente, sobre os princípios que a sustentariam, como os alicerces que definem a solidez de uma construção. Eclético e engajado, o grupo que se reuniu naquele dia demonstrava entusiasmo e satisfação por fazer parte daquele momento histórico para a causa da proteção da infância diante do consumismo e das relações com o consumo.
Memória
No encontro, cada participante contou um pouco de sua história, seu trabalho e sua ligação com o tema. Após a apresentação individual, Isabella Henriques, advogada e diretora do Alana, falou sobre a importância de se criar um fórum de discussão, troca e mobilização para a potencialização do trabalho já realizado pelos que ali se reuniam. Muitos dos presentes já acompanhavam o trabalho do Instituto Alana, desde 2006. “Por meio do projeto Criança e Consumo, esta rede de redes de contatos crescia continuamente e, além do apoio de pessoas das áreas acadêmicas e jurídicas, era preciso envolver outros atores, o que permitiria a difusão dessa pauta em diversas esferas da sociedade”, explicou Isabella Henriques.
Como formar uma rede?
Presente à reunião para ajudar na tarefa de criar uma organização horizontal e colaborativa estava Cassio Martinho, especializado em consultoria para a criação de redes. Ele foi o responsável por discutir as linhas básicas para o planejamento do novo movimento em prol da infância. O que é uma rede e quais são os princípios norteadores desse tipo de movimento foram alguns dos temas de sua fala, além de sugestões de objetivos centrais para o grupo.
Muitas sugestões e dúvidas surgiram durante o encontro por parte de todos os presentes. Como articular os participantes e potencializar suas ações? Como garantir a diversidade na nova rede? Como incentivar a fluidez e a flexibilidade em contraposição à rigidez organizacional? Como enfrentar o poder do mercado que explora o consumismo infantil? Como teremos força para influenciar a criação de políticas públicas?
Naquele momento, naturalmente, existiam mais perguntas do que repostas. Mas havia uma vontade enorme de colaborar e de seguir naquele caminho, apesar das dificuldades que já eram conhecidas. Mais do que recursos e certezas, havia vontade e sinergia.
A psicóloga Ana Olmos fez uma fala comovente sobre a importância da reunião do grupo. Apesar da tecnologia permitir um trabalho em rede de forma virtual, ela lembrou que “nada substitui a experiência dos encontros presenciais, já que os vínculos que se estabelecem assim são mais fortes”.
E de junho de 2013 até hoje, nove encontros presenciais com participação de vários estados e alguns encontros menores aconteceram fortalecendo cada vez mais os laços entre os integrantes da Rebrinc e o trabalho do grupo. Diversas ações em várias partes do país consolidaram a Rede Brasileira Infância e Consumo e o questionamento do consumismo infantil.
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Texto: Desirée Ruas/Rebrinc