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O Dia Mundial sem Compras e o poder das grandes liquidações

O Dia Mundial sem Compras e o poder das grandes liquidações

 

Você sabia que no último sábado de novembro comemora-se o Dia Mundial Sem Compras (Buy Nothing Day). A data foi criada em Vancouver, no Canadá, pelo artista Ted Dave, em setembro de 1992. Vários países em todo o mundo celebram a data. O objetivo é, mais do que desafiar as pessoas a não comprarem nada no dia, estimular a reflexão sobre a atual cultura do consumo e seus impactos sobre o ser humano, sobretudo a infância. Já imaginou como as crianças são influenciadas pela pressão para o consumo e quais são os valores e os comportamentos que essa realidade provoca?

O papel da família é fundamental nesse processo, como afirmam os especialistas em comportamento infantil. A educação para o consumo acontece a todo momento junto da educação do dia a dia. Mas por mais que as famílias se esforcem, o mundo encantado do consumo, reforçado pelos comerciais da TV e da internet, desenham para meninas e meninos um cenário de bens que parecem ser indispensáveis. E tem a moda, a tecnologia, o consumo nas viagens, o material escolar, os brinquedos, os alimentos…

A mobilização contra o consumismo pode e deve acontecer todos os dias do ano, na busca por uma economia e um estilo de vida que respeitem os limites do planeta. Leitura crítica da mídia, ações nas escolas, mudanças na legislação para proteger de forma adequada a infância são reivindicações das famílias e de movimentos, como a Rede Brasileira Infância e Consumo.

Black Friday e outras grandes promoções 

O Black Friday é um evento anual criado no Estados Unidos e que também chegou ao Brasil. Os consumidores aguardam ansiosamente pela data para comprar produtos com grandes descontos. Quem, afinal, deixaria de comprar produtos que estão com os preços muito baixos em qualquer megaliquidação?

Após algumas edições realizadas no Brasil, os consumidores já perceberam que, em alguns casos, os descontos não são o que parecem ser. Órgãos de defesa do consumidor alertam para práticas do comércio que vão desde aumentar os preços para abaixar na “Sexta-Feira Negra” até golpes nas vendas pela internet. Muitos consumidores compram e não recebem ou recebem produtos inferiores àqueles que foram anunciados.

Endividamento

Mesmo que os preços estejam bons, em ocasiões como a campanha Black Friday, é provável que a compra seja muito mais por impulso do que por necessidade. Comprar algo que não precisamos nunca é um bom negócio. E grande parte das pessoas faz compras com cartão de crédito o que favorece o endividamento. Com a crise financeira e o desemprego, não dá para saber se teremos condições de pagar quando a fatura do cartão chegar. Aí, a pessoa, que comprou algo que não precisava, vai ter que pagar o valor mínimo e a bola de neve do endividamento começa. Sem um planejamento financeiro rígido, os consumidores podem assumir dívidas que não poderão pagar. O superendividamento é cada vez mais comum e seus prejuízos afetam toda a família, explica a educadora financeira Adriana Fileto.

Compras de Natal

Com a intensa publicidade dos preços baixos, muitos são levados a antecipar os presentes de Natal durante a promoção da última sexta-feira de novembro. Com a pressa em fazer as compras, algumas pessoas acabam comprando sem pensar nas escolhas, buscando apenas aproveitar a ocasião. Depois descobrem que a camisa não é o estilo da pessoa que será presenteada ou o brinquedo não é o que o filho queria. O bom negócio vira mau negócio.

Questões socioambientais em jogo

Não é assunto de ecochato, mas sim uma realidade cada vez mais gritante. As escolhas de consumo têm um imenso impacto sobre o planeta. O consumo que faz rodar a economia é o mesmo que prejudica a própria economia. Os impactos ambientais do consumo agridem a qualidade e a disponibilidade da água, geram poluição do ar que leva a mudanças climáticas e geram resíduos em escala cada vez mais gigantesca. Por mais que se incentive a reciclagem e a destinação correta dos resíduos, mais inteligente seria evitar ao máximo a geração de lixo. Alguns tipos de embalagem, sem possibilidade de reutilização ou reciclagem, deveriam estar fora da lista de materiais usados pela indústria e o comércio, como é o caso do isopor. Muitas cidades não contam com a reciclagem desse material apesar de diversos tipos de produtos, do bolo de padaria até a geladeira, serem embalados ou protegidos com o isopor.

 

foto_cabides_pixabay

Excesso de roupas e objetos em casa

Basta dar uma olhada rápida no armário para ver o quanto acumulamos. Calças, blusas, sapatos, gravatas, bolsas, cintos e uma infinidade de peças que foram compradas para terem uso mas que, na realidade, ficam a maior parte do tempo esquecidas no fundo da gaveta. Se não vamos usar, por que compramos? Vale a pena ler a reflexão da jornalista e ativista Claudia Visoni que diz: “Até a semana passada eu me achava razoavelmente ecológica e não muito consumista. Aí fiz uma arrumação no armário e descobri que possuo:

  • 110 peças para meu próprio hemisfério norte (incluindo camisas de trabalho, blusas de manga longa, de alcinha, de festa, de ficar em casa e as camisetas fuleiras para fazer esporte);
  • 29 calças;
  • 6 saias e 1 vestido;
  • 17 bermudas;
  • 45 sapatos;
  • 24 malhas de lã e 6 blazers (que odeio usar);
  • 25 bolsas, mochilas & cia.

Apenas um corpo e 258 peças de roupas. Isso sem contabilizar as que se encontravam na longa jornada que vai do cesto de roupa suja ao armário novamente.”

Existe moda sustentável?

Há todo momento as marcas lançam selos de moda sustentável com novas coleções. Mas, afinal, como andar na moda e ser sustentável? A cada estação uma nova tendência. E a publicidade, os blogs de moda, as revistas vão dizer que seu guarda-roupa está ultrapassado. Novas peças de roupa, mais consumo. E você já pensou como são feitas aquelas roupas super baratas à venda nas lojas de departamento?

Perda de foco do que é essencial

Quanto mais compramos, mais sentimos que precisamos comprar porque entramos na ciranda do consumo. E do luxo ao lixo, num piscar de olhos, como denuncia o escritor Zygmunt Bauman. Enquanto o produto está na vitrine ele nos encanta e é um luxo. Depois que compramos, o produto perde o glamour muito rapidamente e voltamos a desejar o que está na vitrine. Perdemos muito tempo pensando em compras que não são necessárias e buscam satisfazer necessidades artificiais. Preenchemos vazios existenciais com carros, celulares, vestidos… E o processo nunca tem fim. Trabalhar para pagar contas e mais contas. Afinal, qual o sentido que gostaríamos de dar para nosso trabalho, nosso tempo, nossa vida?

Exemplo para as crianças 

Para combater o consumismo infantil precisamos muito da ajuda da família e da escola. Se os pais compram sem pensar e desperdiçam muito dinheiro e recursos, os filhos irão ter um referencial consumista para seguir. Se na escola, não há um trabalho crítico sobre uso de material escolar, uniforme e reutilização de livros, também não estaremos ensinando as crianças a pensar sobre o consumo.

Leitura Crítica da Mídia

O poder da publicidade sobre a infância é gritante. Se nós, adultos, já somos afetados enormemente pelos apelos para o consumo e os valores colocados pelos meios de comunicação, imagine o que acontece na cabeça das crianças. Fazer uma leitura crítica da mídia é um desafio para todas as famílias pois falta este tipo de abordagem nas escolas. Educadores, pais, mães, especialistas de várias áreas buscam caminhos para proteger a infância do consumo.

A Rede Brasileira Infância e Consumo, REBRINC, reúne pessoas interessadas em discutir o impacto do consumismo sobre as crianças. Junte-se a nós.

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