Jovens, mídia e incentivo ao consumo
Por Desirée Ruas – Jornalista e integrante da Rebrinc
A discussão da redução da maioridade penal levanta várias questões. A cobertura da mídia é uma delas. Há uma grande comoção no ar incentivada pelos programas policialescos que dão destaque para os crimes cometidos por jovens. E cada vez mais ouvimos que o jovem tem que pagar pelos seus crimes mas não ouvimos com a mesma veemência que precisamos mudar a realidade de nossas crianças. Muitas crescem sem recursos materiais, referências, valores e educação. Sem uma família que as ampare e mostre o caminho a seguir e sem oportunidades que as façam ser valorizadas, correm o risco de serem engolidas pelo crime e sobretudo pelo tráfico de drogas.
Triste realidade que começa na forma como a infância é bombardeada e incentivada ao consumo, à fama e à acumulação de bens. Seguramente nem todos os adolescentes que querem ter o tênis de marca ou o celular mais caro vão entrar para o mundo do crime mas a relação entre incentivo ao consumo e criminalidade é apontada por muitos especialistas. De que maneira o constante estímulo ao consumo afeta o desenvolvimento de nossos jovens? Qual é o contraponto que deve existir para equilibrar os valores que são exibidos em comerciais e programas em geral? Qual é o papel da família e da escola? Em nome da liberdade de expressão, agências de comunicação e emissoras não querem nenhum tipo de regulação. Mas como ficam as crianças e os adolescentes em um mar de apelos ao consumo e conteúdos violentos?
A resolução Conanda 163 trata da abusividade do direcionamento da publicidade para crianças, mas também fala do que não deve ter a comunicação direcionada para os adolescentes. No artigo 3º, a resolução estabelece a importância de “atenção e cuidado especial às características psicológicas do adolescente e sua condição de pessoa em desenvolvimento”. O anúncio feito para o adolescente “não pode induzir, mesmo implicitamente, sentimento de inferioridade no adolescente, caso este não consuma determinado produto ou serviço” assim como “não permitir que a influência do anúncio leve o adolescente a constranger seus responsáveis ou a conduzi-los a uma posição socialmente inferior”. Além disso não pode induzir, favorecer, enaltecer ou estimular de qualquer forma atividades ilegais nem induzir, de forma alguma, a qualquer espécie de violência. E o que costumamos ver nos anúncios? Como a pressão para o consumo acontece sobre nossos jovens?
É preciso entender que o adolescente vive uma fase especial do seu desenvolvimento o que demanda cuidados especiais também na produção de conteúdos dos meios de comunicação. A família, a escola e toda a sociedade devem estar preparadas para entender o que está por trás dos apelos ao consumo e dos conteúdos da mídia, questionando valores e comportamentos que são estimulados, seja nos comerciais de cerveja ou nos programas policialescos. É preciso um olhar crítico e um engajamento de todos para construirmos outros caminhos que viabilizem o desenvolvimento saudável de nossas crianças e jovens.
Publicado em 27 de julho de 2015
Publicado originalmente no blog Conversando sobre Adolescência
Imagem: Freepik