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Ambiente alimentar e obesidade infantil: qual a relação entre eles na sociedade contemporânea?

Ambiente alimentar e obesidade infantil: qual a relação entre eles na sociedade contemporânea?

Por Helena Previato – Nutricionista, doutoranda em Alimentos e Nutrição pela Unicamp e integrante da Rebrinc

O ambiente alimentar é um dos principais determinantes das escolhas alimentares. Atualmente, a alta disponibilidade de alimentos classificados como ultraprocessados e a hiperpalatabilidade dos mesmos são estímulos importantes para o desenvolvimento do padrão alimentar obesogênico em crianças e adolescentes. Assim, o consumo excessivo e/ou a substituição de refeições (como almoço e jantar) por pães, bolos, biscoitos recheados, doces em geral, chocolates, sorvetes, sobremesas, salgadinhos de pacote, alimentos congelados como nuggets, lasanha e pizza, lanches tipo fast food como hambúrguer e batata frita, acompanhados de refrigerantes ou outras bebidas açucaradas podem contribuir para o ganho de peso e a obesidade na infância e adolescência. Isso porque o alto consumo desses alimentos – ricos em açúcares, gorduras e sódio – pode levar a formação de hábitos alimentares caracterizados pela monotonia/excesso de alimentos hipercalóricos e por baixa variedade e qualidade da alimentação, contribuindo significativamente para o surgimento e/ou agravamento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) como a obesidade, a hipertensão, a hipercolesterolemia, o diabetes mellitus tipo II e as doenças cardiovasculares.

Sabe-se que a obesidade é uma doença multifatorial, uma vez que vários fatores isolados ou combinados (genéticos, fisiológicos, hormonais, psicológicos e culturais) podem interferir no seu desenvolvimento. Além disso, o estilo de vida sedentário, cada vez mais comum nos dias atuais, associado a um padrão alimentar hipercalórico contribuem para a crescente epidemia de obesidade na infância e adolescência.

Nesse contexto, a alta exposição aos alimentos hiperpalatáveis – por meio da grande oferta atual aliada à publicidade direcionada a crianças e adolescentes – influencia os processos psicológicos de pensamentos, sentimentos, desejos e atitudes em relação às escolhas alimentares. Décadas atrás, o acesso aos alimentos ultraprocessados como chocolates, biscoitos, snacks doces ou salgados, refrigerantes e outras bebidas com alto teor de açúcar, entre muitos outros produtos alimentícios, era mais restrito e o custo era mais elevado. Entretanto, na atualidade, é possível encontrar uma grande variedade desses produtos a um custo menor e de fácil acesso em diversos lugares desde supermercados, mercearias, padarias, lanchonetes em geral, cantinas escolares, lojas de conveniência, shoppings e até mesmo em drogarias. Ou seja, o ambiente alimentar contemporâneo oferece uma grande oferta de alimentos ultraprocessados e hiperpalatáveis, podendo contribuir para o consumo excessivo de tais alimentos em qualquer dia, horário e lugar.

Portanto, para combater e prevenir o aumento da obesidade infantil, medidas são necessárias com o intuito de promover o consumo consciente e equilibrado do ponto de vista de grupos de alimentos e composição nutricional. Nesse sentido, observar o ambiente alimentar em que as crianças e os adolescentes estão inseridos e expostos cada vez mais precocemente é crucial. Assim será possível propor estratégias de orientação alimentar nas escolas, nos bairros, nos postos de saúde e principalmente na mídia por meio de campanhas e políticas públicas destinadas ao incentivo de práticas alimentares mais saudáveis associadas à atividade física e à redução do tempo sedentário. Dessa maneira, será possível proporcionar às crianças e aos adolescentes um ambiente alimentar mais compatível com o binômio saúde e qualidade de vida.

 

Saiba mais sobre a colunista Helena Previato

Nutricionista, especialista em Nutrição Clínica pela Asbran, mestre em Saúde e Nutrição pela Ufop e doutoranda em Alimentos e Nutrição pela Unicamp. Trabalha há mais de 10 anos com alimentação e nutrição infantil. Possui experiência em hospitais, consultórios e em docência em nutrição. Encontrou na Rede Brasileira Infância e Consumo – Rebrinc um espaço de discussão sobre diversos assuntos voltados para a infância, dentre eles a alimentação e a nutrição.

Fale com a autora: contato@rebrinc.com.br