Alimentação saudável: família e escola precisam caminhar juntas
Como as escolas estão planejando o próximo ano letivo em termos de alimentação escolar? Quais projetos relacionados à educação alimentar e educação para o consumo irão acontecer em 2018 nas escolas públicas e privadas da minha cidade? O que é possível fazer para estimular o consumo de alimentos nutritivos no ambiente escolar? O lanche que vem de casa ou o lanche comprado na escola: como promover a alimentação saudável entre crianças e adolescentes? A lista de perguntas é extensa. Todas elas apontam para uma direção: a escola é um espaço fundamental para se trabalhar a mudança de hábitos alimentares de crianças e adolescentes.
Para a nutricionista Cláudia Dias, o trabalho feito na escola pela promoção da alimentação saudável vai atuar em duas frentes: reforçando os bons hábitos alimentares que já são comuns em determinadas famílias e ajudando outros pais a corrigir a rota em busca de mais saúde para as crianças. “Nós sabemos que, ao longo dos anos, inúmeras famílias brasileiras vem adotando uma dieta com muitos alimentos ultraprocessados, de fácil preparo e com longa validade. Há muito fatores envolvidos nesse cenário. O resultado é um grande número de crianças obesas e com doenças crônicas não transmissíveis como colesterol alto e diabetes. Deixamos a comida de verdade de lado e adotamos uma alimentação muito artificial que tem um peso para a saúde de todos”, relata.
Comida de verdade
A vida corrida das famílias e os apelos da publicidade são os principais fatores que levaram as famílias a seguirem pelo caminho do consumo exagerado de industrializados, com muito açúcar, sal, gordura, segundo a nutricionista e integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo – Rebrinc. Mas ela afirma que a hora é de mudança. “Mais do que apontar culpados, a hora é de somarmos esforços para termos uma alimentação mais saudável para a infância. Temos muita informação sobre os malefícios do consumo de uma alimentação excessivamente industrializada”, comenta. Para ela, a sensibilização para a mudança é o segundo passo que vai fazer com que as pessoas digam não a refrigerantes e bebidas açucaradas, fast food, alimentos ultraprocessados e se preocupem em desenvolver o paladar das crianças para os alimentos saudáveis. “Sem dúvida, pela saúde das crianças, a escola precisa abraçar a causa do combate à má alimentação. Não podemos deixar apenas nas mãos das famílias. A criança passa muito tempo na escola, em contato com os educadores e os colegas. É preciso usar este tempo também para a promoção da saúde da criança. Não é um jogo de empurra para culpabilizar o outro e sim um posicionamento que acolhe e entende que família e escola precisam caminhar juntas e andar de mãos dadas. Acredito na educação ampla e a alimentação faz parte desse contexto”, revela Cláudia Dias.
Cantinas saudáveis
Sobre o desafio de mudar as cantinas escolares, oferecendo cada vez mais opções saudáveis e estimular o consumo destes alimentos, ela explica que não dá para colocar um salgado ao lado da fruta e achar que a criança vai pedir o mais saudável. Para algumas crianças o hábito alimentar saudável já é uma realidade, mas para muitas outras a sedução dos salgadinhos e doces vai ser muito forte. Outro ponto importante levantado por Cláudia Dias se refere à pressão das empresas que querem manter seus alimentos dentro da escola. “Devemos dificultar o acesso aos alimentos que não são saudáveis. Isso não quer dizer que a criança nunca vai poder comer doces, por exemplo. Significa que, na escola, o alimento disponível é saudável”, reforça. “Aqui em Minas Gerais contamos com uma legislação que proíbe alimentos não saudáveis nas cantinas das escolas, a Lei 18.372/2009 e a Resolução 1.511. Mas, ainda assim algumas escolas, sobretudo as privadas, comercializam alimentos não saudáveis por falta de regulamentação específica. Mais do que leis, precisamos é de consciência e ações pela infância que estejam em sintonia. As escolas podem usar melhor o seu potencial para mudar esta realidade, estimulando uma vida mais saudável na teoria e na prática”, reforça a nutricionista.