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Um bate-papo sobre música infantil com Aquiles Reis, do MPB4

Um bate-papo sobre música infantil com Aquiles Reis, do MPB4

 

Uma fã, um abaixo-assinado e o relançamento na década de 90 do disco infantil “Adivinha o que é”, sucesso de 1981 do grupo MPB4. A fã era Marialice Levy, advogada e integrante da Rebrinc, uma grande defensora do resgate das músicas infantis que fizeram sucesso na década de 80. Tudo começou em 1996, quando ela foi a um show do MPB4 e perguntou aos integrantes do grupo por qual motivo eles não relançavam as músicas do LP “Adivinha o que é”. Antônio José Waghabi Filho, o Magro, um dos integrantes do grupo, explicou a ela que era um trabalho que fizeram com muito carinho, mas que as gravadoras estavam interessadas em outros tipos de CDs infantis, mais rentáveis. Ela sugeriu um abaixo-assinado que ela mesma fez e encaminhou à gravadora. E em 1998 o “Adivinha o que é” foi lançado em CD com a ajuda do mesmo abaixo-assinado feito por Marialice. Em 2014, o grupo lançou o DVD e as músicas que ela usava para animar as festas infantis na década de 80 voltaram ao cenário musical com  mais força. “Agradecemos muito a Marialice, que foi umas das grandes responsáveis pelo lançamento do “Adivinha o que é” em CD. Foi uma atitude cheia de entusiasmo, carinho e ousadia”, escreveram no blog. Para quem quiser ouvir a história completa, o integrante Magro a publicou em seu programa de rádio em 2010, com depoimento da própria advogada. Na entrevista a seguir Aquiles Reis, integrante do grupo MPB4 desde sua criação em 1965, conta para a Rebrinc, em uma entrevista exclusiva, um pouco da história do LP “Adivinha o que é” que traz obras como O Pato, A Lua e o Som dos Bichos.

 

Como você avalia o trabalho infantil que o MPB4 fez para as crianças e que lembranças tem dessa época?

Considero o “Adivinha o que é” um dos nossos melhores e mais importantes discos. Gravá-lo foi uma forma de refrescarmos o nosso repertório e de termos um contato mais próximo com as crianças, graças às apresentações que fizemos em horário vespertino. Só pelo fato de ver brilhando centenas de olhinhos que miravam o palco, nos emocionou e ainda hoje emociona.

Qual foi a motivação para a gravação dos LPs infantis na década de 80? Qual foi a sensação de ter o lançamento do CD em 1998 e do DVD em 2014?

Ao ouvirmos as músicas de Renato Rocha, criadas com alguns parceiros, percebemos estar diante de “ouro em pó”. Naquele momento, graças ao CD “Vira Virou”, à época o nosso LP recém-lançado, nós estávamos num bom momento, nossas gravações tocavam nas rádios e ampliavam o nosso público. Mas, ao invés de seguir o “caminho mais seguro”, ao menos aos olhos da gravadora, que seria gravar um “Vira Virou nº2”, peitamos a gravação do trabalho infantil que nos foi apresentado pelo Renato Rocha. O LP ficou lindo. E, tão lindo quanto ele, ficou o espetáculo que montamos a partir dele. Concebido e dirigido por Benjamim Santos, o musical era belíssimo. Hoje, passado tanto tempo, temos alguns pais que levaram suas crianças para assistir ao espetáculo, em 1998, já tendo se tornado avós, e podendo mostrá-lo novamente, agora, em 2014, em forma de um DVD com animações. Isso nos faz feliz e tornamos a nos emocionar, reafirmando o nosso sentimento de que o “Adivinha o que é” é um grande trabalho, do qual temos imenso orgulho.

Hoje temos um público infantil muito ligado à tecnologia e aos jogos eletrônicos e bombardeado, muitas vezes, com músicas com conteúdo adulto. Como vocês acham que a música de qualidade e feita especialmente para a criança contribui para criar uma verdadeira cultura da infância?

A internet, celulares, etc. são uma realidade bem como palpável é o fascínio dos pequenos pelas engenhocas eletrônicas. Mas creio que música é tão importante para a formação das crianças quanto o aleitamento materno. Apresentar boas músicas para elas é como ampliar seus horizontes, dando-lhes chance de escolha.

Como vocês percebem o cenário musical dedicado às crianças nos dias de hoje e quais as principais diferenças com relação às décadas anteriores?

Hoje em dia mais músicos têm se dedicado a trabalhar especialmente para as crianças. Mas só quando a mídia perceber que o seu papel social é de suma importância, como, digamos, “ajudante de proteção à formação dos pequenos”, e passar a veicular outro tipo de música, será possível democratizar as concessões públicas. Sei que isto é utopia. Mas ainda assim acredito ser possível tocarmos o coração dos “senhores da mídia”.

 Que recado vocês gostariam de mandar para os adultos de hoje que fazem questão de apresentar para os filhos e netos as músicas infantis gravadas pelo MPB4?

Cantem para suas crianças. Deem-lhes opções. Façam o papel que a mídia não faz, e talvez nunca faça. Ensinem a seus pequenos que existe outro tipo de música. Deixe que eles ouçam suas vozes familiares. Eles, que já sentem confiança no tom da voz de pais, avós etc., vão senti-las como uma bússola que lhes apontará um caminho seguro rumo ao futuro que é só deles, e que só a eles caberá decidir.

 

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Aquiles Reis é integrante do grupo MPB4 desde sua formação original em 1965, que contava também com a participação de Ruy (que se desligou do grupo em 2004), Magro Waghabi (que faleceu em 2012) e Miltinho. Atualmente o grupo é composto por Aquiles, Miltinho, Dalmo e Paulo Malaguti.

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Capa do LP Adivinha o que é, do grupo MPB4, lançado em 1981, relançado em CD em 1998 e em DVD em 2014

 

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Marialice entregando a capa do LP em show no Tom Brasil em 1997 (Arquivo pessoal)

 

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