Dia das Crianças: como questionar o consumismo na escola?
Como as escolas lidam com as datas comemorativas e o incentivo às compras que a mídia promove? Como questionar o estímulo ao consumo com os alunos no Dia das Crianças? A pedagoga Ana Carolina Pereira Martins, que trabalha com crianças de três a seis anos em uma escola pública de Campinas, conta a sua experiência na sala de aula para a seção Consumo na Escola.
Como você percebe a influência dos comerciais de brinquedos sobre seus alunos próximo ao Dia das Crianças?
É nítido como em épocas de datas comemorativas as crianças são tomadas pelos comerciais: “meu pai comprou para mim…”, “minha mãe vai comprar…”, “olha o que eu ganhei ontem…”. Essas são frases recorrentes na escola ao longo do ano. Próximo ao Dia das Crianças, descubro sempre um novo brinquedo que ainda não conhecia. Meninos com os itens de super-heróis e as meninas com os de beleza (esmalte, batons, maquiagens, sapatos, dentre outros) e ambos com os eletroeletrônicos. As falas das crianças são sempre no sentido de que elas têm necessidade daquilo para brincarem e se divertirem. Os comerciais influenciam muito mais do que a escolha do brinquedo, eles pretendem formar valores nas crianças e definem o que é a brincadeira para elas, limitando o uso da imaginação infantil.
Como educadora, como você vê a pressão para o consumo nesse período, e como a escola pode questionar e apresentar alternativas?
A pressão para o consumo é agressiva e percebo o quanto atinge as crianças, especialmente nesta época do ano. É cruel observar como as crianças viraram o alvo da publicidade, seres ainda incapazes de distinguir sozinhas as mensagens embutidas nas propagandas. E, como é perversa a lógica de utilizar as crianças para garantir um mercado consumidor para seu produto. Por isso, onde trabalho, há três anos realizamos as Feiras de Trocas mensalmente, e encerramos o trabalho na semana do Dia das Crianças. Na data definida, as crianças levam brinquedos de casa para trocarem na escola com um amigo, com o objetivo de criar um senso de partilha e desapego dos bens materiais. E que as crianças compreendam que um brinquedo que já não tem graça para uns, pode fazer a alegria de outros. Assim, com o tempo, podemos perceber que a brincadeira agrega experiências mais importantes para as crianças do que o brinquedo em si. Penso que este pode ser um caminho para a escola ampliar o repertório de brincadeiras das crianças, criando novos espaços para a imaginação infantil e rompendo com os apelos consumistas.
Tem uma experiência para compartilhar com a gente sobre o consumo na sua escola? Envie para contato@rebrinc.com.br