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Opa! O que as crianças estão fazendo nesta sala de cinema?

Opa! O que as crianças estão fazendo nesta sala de cinema?

 

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Por Débora Figueiredo* – Graduada em Filosofia e mestranda em Psicologia

Certo dia fui a um filme brasileiro de comédia atraída pelo elenco. Suspeitei seriamente que um filme com Gregório Duvivier, Bruno Mazzeo, Lúcio Mauro Filho, Natália Lage e Danton Mello certamente me faria rir. Bom, é verdade, eu ri. Mas devo dizer que minha primeira reação foi, na realidade, um susto. A primeira coisa que eu falei quando dei a primeira observada geral na sala de cinema foi: gente, de onde saiu tanta criança num filme não recomendado para menores de 12 anos? Não vou aqui entrar no mérito da responsabilidade dos pais porque embora sim, a responsabilidade seja deles se foram eles que levaram/aceitaram que seus filhos fossem ao cinema, o buraco é mais embaixo.

Em primeiro lugar, porque esse é o tipo de filme que passa também na televisão. Num mundo ideal em que as crianças dormem cedo para aproveitar bem o outro dia e não ficam até tarde conectadas a uma telinha brilhante com acesso à internet, elas não ficariam acordadas após às 22h30 para assistir ao filme que fala sobre cinco amigos que, sofrendo com problemas financeiros, resolvem se reunir para aplicar um golpe contra uma transportadora de valores, mas muitas vezes elas ficam. Por vários motivos: por ser um filme que parece ser engraçado, por ser um filme com o Fábio Porchat e o público infantil gosta dele, porque já estão acordadas mesmo e vai passar um filme na TV, enfim. O fato é que assistem. E se assistem, é imprescindível que as emissoras respeitem a Classificação Indicativa de qualquer programa de televisão, inclusive. Em qualquer horário. Fazer isso não significa desrespeitar a liberdade de expressão das empresas, significa respeitar o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990). É bom que isso fique bem claro.

Em segundo lugar vivemos numa cultura em que nossas mídias nos levam a naturalizar a violência, banalizar o mal e estranhar o amor. Como? Nos filmes, muitas vezes, somos levados a nutrir simpatia pelos vilões, que são carismáticos e espertos; nos programas policiais, os apresentadores expõem os corpos das vítimas e o sofrimento das famílias em pleno horário de almoço; nas novelas, as trapaças e os crimes são banais e algumas delas se sustentam nisso; nas notícias que lemos, o pedófilo vira o “homem que mantinha relações com uma criança de 11 anos”, o agressor vira suspeito; nas redes sociais, o ódio é destilado gratuitamente. Mas o amor? Ah, o amor… o amor é escondido. O amor entre dois homens é condenado, entre duas mulheres é condenado, entre três ou mais pessoas é condenado. Se dois homens andam na rua de mãos dadas, as crianças não podem ver, mas se passa uma notícia sobre um assassinato, tudo bem? A busca pelo direito das mulheres não dá audiência; as pautas do movimento negro não dão audiência; a sensibilização pelos direitos da criança não dá audiência.

Vivemos em tempos difíceis.

Agora a discussão sobre a Classificação Indicativa é retomada (veja aqui) e a participação consciente de pais, responsáveis, educadores e formadores de opinião é fundamental nessa hora. Estejamos juntos!

Com mais amor, por favor.

 

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Você sabia que:

O Supremo Tribunal Federal retomou, em 5/11/15, o julgamento da ADI 2404, que busca revogar o art. 254 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990). O texto prevê multa para as emissoras que desrespeitarem a Classificação Indicativa dos programas de televisão, veiculando conteúdo em horário não apropriado. O julgamento havia sido paralisado em novembro de 2011, após pedido de vistas do então ministro Joaquim Barbosa.

A ação direta de inconstitucionalidade, movida pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), a pedido das emissoras de radiodifusão, defende a tese de que a vinculação horária da programação a faixas etárias para as quais seriam recomendadas representa uma violação à liberdade de expressão das empresas. Sem as multas, a Classificação Indicativa perde sua força e os direitos da infância e da adolescência serão desrespeitados.

Saiba mais em Classificação Indicativa em risco.

 

Publicado em 15/02/2016

Imagem: internet

 

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* Saiba mais sobre a colunista Débora Figueiredo:

Possuo um nome que faz referência a um bichinho e uma super árvore: Débora, que significa abelha, em hebraico; e Figueiredo, que faz referência às figueiras. Amo a natureza, embora viva numa metrópole lotada de obras, carros e prédios: Fortaleza, tão linda quanto frágil. Sou graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará e atualmente faço mestrado em Psicologia com o intuito de entender um pouco sobre as consequências que podem surgir a partir do contato dos pequenos com as novas tecnologias. Antes de ingressar no mestrado, fui professora de Filosofia por três anos em uma escola pública militar e foi essa experiência que fez com que eu despertasse interesse por temas como infância, consumo e novas tecnologias. Sou fruto de uma infância sem hambúrgueres, brindes, cinema e brinquedos em excesso, mas com muita rua, esconde-esconde, pega-pega e amarelinha. Eu também faço parte da Rebrinc e espero poder continuar contribuindo e aprendendo cada vez mais com a Rede.

Fale com a autora: contato@rebrinc.com.br

Texto feito especialmente para o site da Rede Brasileira Infância e Consumo, Rebrinc. Caso queira reproduzi-lo, pedimos que mencione a fonte e o autor, com link para o site. Ajude-nos a valorizar os autores e a divulgar o nosso trabalho pela infância.

 

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