Outras ideias sobre consumo para a Educação Infantil
Consumo na escola: Conheça experiências pedagógicas do Colégio Americana – Americana/SP
Por Maria Belintane, doutora em Educação e especialista em Desenvolvimento Humano; Valéria Cantelli, doutora em Educação, membro do Laboratório de Epistemologia Genética/Faculdade de Educação/UNICAMP e especialista em Educação para o Consumo. Ambas são integrantes da Rebrinc; e Adriana Scarpelim – professora da Educação Infantil
Leia também a primeira parte deste relato: Como trabalhar o consumo na Educação Infantil?
Como uma professora de Maternal I, com alunos com idades que variam entre 2 a 3 anos, poderia trabalhar Educação para o Consumo? Como explorar o tema de trabalho do Colégio “Desafios do consumo: desejos e necessidades” com a turminha do maternal I? Como trabalhar a influência da publicidade na formação dos nossos desejos e necessidades das crianças?
Dando continuidade às nossas atividades (veja aqui), chegou o dia do nosso estudo do meio numa fazenda. Sair com os pequenos, pela primeira vez, gerou novas inquietações, mas sabíamos que seria uma experiência muito rica para as crianças e uma oportunidade a mais para ampliar o repertório lúdico delas.
Na fazendinha, tivemos a oportunidade de ter contato com vários animais: coelhos, galinhas, pôneis, mini-cavalos, perus e muitos outros. Foi interessante observar a reação das crianças. Expressões de curiosidade, intimidade, alguns mais retraídos, demonstraram medo, mas, no final, todos se aproximaram dos bichinhos e andaram a cavalo. Mexemos na terra, plantamos beterraba, observamos várias árvores frutíferas, além de correr, brincar e, depois de toda exploração, fazer piquenique com direito a bolo de chocolate e suco natural.
A visita à fazendinha casou muito bem com o projeto e nos ajudou a encontrar a magia que faltava, pois nos permitiu encontrar um nome para nosso projeto: Brincadeiras de Quintal.
Estava claro para mim o sentido do brincar criativo que tanto buscava oportunizar para as crianças, em oposição ao brincar passivo, que as deixavam presas às imagens da TV, vendo e ouvido as mesma imagens e músicas. Com as brincadeiras de quintal, queria que elas pudessem aprender a brincar com os amigos, com a terra, com a água, com brinquedos inventados, com o pé no chão, com a boca, com o corpo todo.
Surgiu, então, a ideia de confecção de brinquedos, reaproveitando matérias recicláveis. Queríamos que as crianças se envolvessem na produção de brinquedos, experimentassem o sentimento de criação e a satisfação de brincar com os brinquedos criados por elas próprias. O primeiro brinquedo foi o boliche. A pintura dos cones com guache foi um momento inesquecível.
Os pequenos estavam muito envolvidos com a pintura. Em pouco tempo, era tinta nos cabelos, nas roupas, nos sapatos, testa, orelha, para onde se olhava, havia uma obra de arte. Em meio a tanta gostosura e folia, a única nuvenzinha que nos rondava era: “O que será que as mães dirão, quando virem as crianças assim?” Mas ver a alegria das crianças, pintando, criando, compensava toda preocupação.
Para completar o nosso jogo de boliche, faltava uma bola, o que significava a criação de novo brinquedo: uma bola feita de meia. Mais trabalho, mais exploração: rasgar, amassar, apertar para construir a bola. Oba! Nosso boliche ficou pronto. Agora era hora de brincar!
Entre tantas atividades, não poderia faltar as cantigas de roda, as cirandas. Para animar as nossas cantorias, pensamos em confeccionar um tambor, aproveitando lata de leite e um pedaço de bambu, para servir de batuta.
Nos dias que se seguiram, foi uma animação. Os tambores passaram a acompanhar nossas cantigas de roda. Vocês podem até imaginar o batuque.
Mas faltava decidir como seria nosso portfólio, ou seja, qual seria o suporte para guardar os momentos significativos dessas vivências. Queríamos que fosse algo que pudesse refletir a simplicidade das brincadeiras de quintal, que contasse das descobertas e aprendizagens das crianças.
Novo desafio: encontrar algo que fosse coerente com a ideia de reaproveitamento, de consumo consciente e, ao mesmo tempo, que pudesse ser feito com a participação das crianças. Optei por trabalhar com sacolas de papel que ganhamos em lojas.
Com a ideia na cabeça, mas sem saber ao certo qual seria o resultado final, enviei um bilhete, solicitando que as famílias enviassem sacolas de papel para a escola. As sacolas foram chegando e, tenho que admitir, fiquei em dúvida se havia feito uma boa escolha, pois tinha sacolas de todos as cores e tamanhos, com nomes em letras enormes. Então resolvi desmontar a sacolas, virá-las no avesso e depois montá-las novamente. Foi um trabalhão! Mas valeu a pena, porque, o avesso das sacolas ficou no papelão, tive a ideia de enviá-las para casa como tarefa para que a família e a criança pudessem decorá-la, podendo dar a cada uma a sua cara. O resultado foi surpreendente. Ficaram maravilhosas!
Com a proposta de prepararmos uma homenagem para as mães, tivemos a oportunidade de explorar novas situações em que a riqueza e alegria não estiveram vinculadas a situações de compras. Aproveitamos a ideia da bola, nosso objeto disparador para o início do projeto, trabalhando, reaproveitando CDs antigos e criando quadrinhos coloridos e divertidos.
A participação das famílias durante todo o projeto foi fundamental. A acolhida para receber e realizar as tarefas, as devolutivas, têm acrescentado muitas informações às nossas atividades.
Com a chegada da Mostra Cultural do Colégio, selecionamos algumas das experiências que estamos vivenciando aqui na escola para compartilhar com vocês, para que possam conhecer como estamos conseguindo garantir, com as Brincadeiras de quintal, os objetivos curriculares previstos para o Maternal e a formação de hábitos e comportamentos de consumo saudável.
Sabemos que é no brincar espontâneo que a criança conhece a si própria, o mundo, e constrói sua identidade. É no brincar livre que a criança aprende a existir plenamente e ser feliz.
Fotos: arquivo do projeto