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Como trabalhar o consumo na Educação Infantil?

Como trabalhar o consumo na Educação Infantil?

 

Conheça experiências pedagógicas do Colégio Americana – Americana/SP

Por Maria Belintane, doutora em Educação e especialista em Desenvolvimento Humano; Valéria Cantelli, doutora em Educação, membro do Laboratório de Epistemologia Genética/Faculdade de Educação/UNICAMP e especialista em Educação para o Consumo. Ambas são integrantes da Rebrinc; e Adriana Scarpelim – professora da Educação Infantil

Como uma professora de Maternal I, com alunos com idades que variam entre 2 a 3 anos, poderia trabalhar educação para o consumo? Como explorar o tema de trabalho do Colégio “Desafios do consumo: desejos e necessidades” com a turminha do maternal I? Como trabalhar a influência da publicidade na formação dos nossos desejos e necessidades das crianças?

Foi a partir desses questionamentos que me senti desafiada a olhar para o cotidiano dos meus pequenos alunos com mais atenção, para identificar quais eram as referências que estávamos lhes oferecendo, em relação ao tipo de brincadeiras, músicas, imagens, valores. Nesse exercício de observação, me dei conta de que essas experiências constituem um tipo de consumo e como tal, ensinam a criança. Daí a necessidade de possibilitar-lhes vivências que mobilizem a imaginação, a criatividade, a confiança, ao invés de simplesmente ensinar a repetição, a passividade, o individualismo e a dependência.

É preciso estar atento porque, quando as crianças são bem pequenas, somos nós, pais e educadores, que escolhemos o que elas consomem. Ao fazer essas escolhas, estamos contribuindo para a construção de muitos dos hábitos, preferências, valores que levarão vida a fora.

Consciente da importância das experiências lúdicas para o desenvolvimento saudável das crianças é que decidi organizar, para este ano, um projeto, tendo como eixo o brincar criativo como resposta ao brincar empobrecido e roteirizado que, muitas vezes, a mídia impõe. Decisão ambiciosa, já que sabia que teria concorrentes de peso: Galinha Pintadinha, Patati Patatá, a Turma da Disney, sem esquecer dos brinquedos eletrônicos, muitas vezes, associados à ideia de “educativos”.

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Por brincar criativo, entendemos o brinquedo ou brincadeira que possibilita à criança explorar, inventar, enfrentar desafios, se sentir protagonista da própria aprendizagem.

Com algumas certezas, mas ainda com várias dúvidas sobre como encaminhar o projeto, comecei a trazer brincadeiras tradicionais para sala.

Nessa etapa inicial, foram muitas conversas com a equipe pedagógica e de consultoria. As ideias foram surgindo, uma, depois outra, fazendo sobressair a preocupação com a qualidade das vivências oferecidas às nossas crianças. Queríamos resgatar brincadeiras tradicionais, brincadeiras da época dos pais, dos avós, como forma de oportunizar às crianças momentos de convivência saudável, criativa e construtiva e, acima de tudo, poupá-las dos apelos do consumismo. Acreditamos que o brincar é o melhor alimento para o desenvolvimento da criança, pois, através da brincadeira, ela atribui sentido ao seu mundo, se apropria de conhecimentos que a ajudarão a agir sobre o meio em que se encontra, reconhecendo na cultura brasileira parte de sua história, podendo construir memória e identidade.

O nosso projeto estava começando a tomar forma, quando entrou em cena bola gigante de ginástica. Foi uma festa na sala. Já no primeiro momento, as crianças se entusiasmaram, exploraram, quiseram pegar. Por ser grande, alguns alunos se deitaram sobre a bola, rolaram, outros sentiram um pouco de medo, mas logo foram se familiarizando com a bola, se aproximando e, juntos dos amigos, a brincadeira ficou mais divertida.

A escolha da bola suíça, como objeto disparador das nossas atividades, atendeu aos meus objetivos, que foi o de trazer um objeto que fizesse parte do repertório infantil, oportunizasse brincadeiras, mas também despertasse a curiosidade e interesse dos pequenos.

Trouxe várias outras bolas, para nossa sala, de cores e tamanhos variados. Cores, formas, tamanhos, equilíbrio, colaboração, movimento, sons, foram alguns dos conteúdos explorados. Foi muito prazeroso vê-los manuseando e correndo pelo campo à procura de bolas, fazendo brincadeiras, se divertindo, aprendendo, de forma tão espontânea e significativa.

Acompanhar a riqueza desses momentos me fez ver que não precisava de mais que algumas bolas, com valor estimado de cinco reais, para possibilitar momentos tão divertidos, tantas risadas, descobertas.

Novas propostas foram surgindo, dando mais vida para a nossa rotina diária. Músicas, brincadeiras, histórias, rodas, conversas. Atividades simples, carregadas de significados e sentimentos, que fazem parte do dia a dia da sala do Maternal.

O retorno positivo das crianças, das famílias e da equipe da escola foi fundamental, sinalizando-nos que estávamos no caminho certo; mostrando-nos que o papel da escola é ensinar a criança a brincar; a descobrir que a brincadeira está dentro dela; que ela é o elemento mais importante no brincar; que, brincando, é possível aprender muito.

 

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 Fotos: arquivo do projeto

Leia a segunda parte deste relato aqui: Outras ideias sobre consumo na educação infantil

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