Você sabe o que o seu filho anda assistindo?
Por Silvia Adrião – Diretora pedagógica da Scuola Italiana Eugenio Montale (SP) e integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo
Não é de hoje que a discussão sobre a influência da televisão na formação das crianças é colocada em evidência. Todos sabem também que é muito difícil competir e convencer os pequenos de que a televisão não é a sua melhor companhia. Há um mundo de amizades e descobertas esperando do lado de fora. Sem falar na questão do tempo. É preciso ficar atento à quantidade de horas que a criança passa em frente à televisão, mas hoje quero chamar atenção para outra importante reflexão: você sabe a que o seu filho anda assistindo?
Infelizmente, nossas crianças passam mais tempo diante das telas do que com a natureza ou brincando com outras crianças e esse comportamento vem aumentando com o advento dos tablets e celulares. E, como a infância é uma fase muito importante para a constituição da personalidade, saber o que seu filho está assistindo é fundamental. Diariamente, a televisão e as mídias nos bombardeiam com cenas de violência, sexo, imagens chocantes ou situações que, na maioria das vezes, nem nós adultos conseguimos digerir ou até mesmo entender, imagine uma criança. Somos bombardeados também por padrões de estética, comportamento e uma série de itens de consumo que também atingem, constantemente, as crianças.
É direito da criança crescer cercada de esperança, de um imaginário e fantasias que visam o belo e o encantamento. A exposição a conteúdos que não seriam apropriados para sua idade gera adultização precoce, rouba a atenção de temas que são tão importantes para a infância, além da possibilidade de criar angústias e medos que influenciam sua personalidade e fragilizam o emocional. Proteger a criança é um dever de todos e uma das formas de fazê-lo era com o sistema de Classificação Indicativa, com a associação entre faixa horária e faixa de idades. Infelizmente, esta regulação foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal, colocando as crianças ainda mais em risco diante de tudo que é veiculado nos canais de comunicação. Mais do que nunca se faz necessário que nós adultos estejamos atentos a tudo o que os pequenos assistem. É lamentável que o STF tenha tomado esta posição, posto que a influência e o controle que as redes de comunicação exercem sobre todos os cidadãos são enormes e precisam de regulação.
Preferiria que as crianças não ficassem diante da televisão, sou a favor do brinquedo, do jogo, das pedrinhas, do pé no chão, da bicicleta, dos amigos e dos bichos do jardim. Preferiria que subissem em árvores, brincassem de pega-pega e de inventar fantasias. Sou da turma dos livros, gibis e das canetinhas, mas… Se forem assistir à televisão, que saibamos a que estão assistindo.
Publicado em 10 de janeiro de 2017
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