Uma experiência de consumo em Buenos Aires
* Por Corinne Julie Lopes – advogada e gestora social
No início do mês viajei para Buenos Aires com meu marido, minha enteada e outros familiares. Logo no início da viagem, ao entrar no avião, minha enteada já foi logo perguntando, do nada: vamos viajar de primeira classe? O que é primeira classe? Eu fui logo respondendo também: melhor não saber o que é isso. E de fato, a nossa vida seria bem melhor se a gente não tivesse criado essas e outras categorias, como atendimentos diferenciados em bancos etc. Coisas que nos diferenciam cada vez mais um dos outros… É importante ser diferente mas a diferença deve se dar na singularidade de cada um de nós, não, na capacidade de consumo. Isso é engraçado, se não fosse trágico. Também é engraçado como associamos sempre o que é mais caro ao que é melhor. E assim, vamos nos enredando em uma série de castas e poderes e hierarquias sem fim…
Fui feliz da vida para Buenos Aires pensando que iria encontrar pessoas felizes e radiantes; uma característica típica e divulgada de nós latino-americanos. Encontrei pessoas nubladas e carrancudas. Alguns conjecturam que pode ser efeito da crise pela qual o país esteve passando recentemente. Para mim, é difícil pensar que o humor das pessoas depende da situação econômica do país. Mas é bem verdade que, de todas as impressões que tive da cidade, quase todas elas estavam atreladas à questão do consumo. Estranho, esse costume de nós, mortais. Uma das impressões que mais me marcou foi ver que o refrigerante estava mais caro que o vinho, que um abacaxi me custaria cerca de R$20,00 e que um café da manhã custou a meu pai e sua esposa quase R$100,00. Tudo bem que supérfluos estejam caros, mas comida… É demais. Esse é um item básico de sobrevivência; impossível não perceber.
Saudades do Brasil, meu pai diria! Não pelo barato das coisas mas pelas diversas opções de consumo que ainda temos, que não nos lembra massacrantemente sempre que existem coisas caras demais à grande maioria de nós, brasileiros.
De qualquer forma, é importante fazer jus às características positivas dessa cidade, que funciona. Em plena época de manifestações públicas em decorrência do segundo aumento anual da tarifa de ônibus em Belo Horizonte, o transporte público de Buenos Aires é impecável! Andam-se vários quilômetros na cidade e chega-se a cidades vizinhas por meros R$6,00. O serviço de táxi é muito bom e barato. Nas padarias, só se encontram doces, doces e mais doces (como as pessoas podem se manter tão esguias, meu Deus?).
Posso dizer que, no final das contas, trouxe boas lembranças e muitas fotos de lá (que acredito, são as melhores coisas que podemos levar de um lugar)! E para me despedir de Buenos Aires e de vocês, que me leem, apesar de todas as recomendações contrárias de brasileiros que lá estiveram, eu consegui trazer um espécime do tão famoso doce de leite argentino para o Brasil. Os que dizem que não se pode trazê-lo, justificam dizendo que isso deve acontecer por questões sanitárias… Nada me convence que isso não passe novamente pelas marcas cruéis do capitalismo. O tal do protecionismo econômico que rege a ordem mundial. Também, se conseguíssemos trazer essa delícia com facilidade, muitos de nós brasileiros já estaríamos ricos com a venda desses potinhos enfeitiçantes por aqui…
Foto: Flickr/Juanedc.com
Publicado em 23/08/2015
* Saiba mais sobre a colunista Corinne Julie Lopes
Meu nome é Corinne Julie. Sou de Conselheiro Lafaiete, moro atualmente em Belo Horizonte mas já visitei e morei em outros mares e montanhas… Assim como o significado do meu nome, sou cor, magia e alegria. Amante de livros, fotografias e boas viagens, encontrei na Rebrinc, espaço para algumas inquietações minhas. Sou advogada, gestora social e mediadora de conflitos. Sócia-fundadora do CEDECA MG (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente) e mestre em Educação, Gestão Social e Desenvolvimento Local. Acredito que boas ideias e várias atitudes podem mudar o mundo.
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