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Ter filhos é assumir um compromisso com o futuro

Ter filhos é assumir um compromisso com o futuro

Por Silvia Adrião – Integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo

Com a quarentena, muitas memórias e emoções se afloraram. Revirando alguns textos escritos em tempos anteriores, me deparei com esta produção sobre a responsabilidade que assumimos quando temos um filho. Este texto traz uma mensagem atemporal, mas muito oportuna nestes dias de isolamento. Estamos vivendo, talvez como nunca antes, a intensidade das relações familiares, das relações entre pais e filhos e, diante deste enorme desafio que a vida nos impôs, se faz mais atual que nunca esta mensagem. Espero que, assim como me ajudou a reafirmar meus compromissos com a educação de meus filhos, este texto também ajude outras pessoas a compreenderem a dimensão e o valor que têm as relações que estabelecemos com nossos pequenos e o grande poder do exemplo, na convivência cotidiana. Boa leitura!

Quando me tornei mãe, pela segunda vez, vivi um reinício que me fez repensar nos compromissos e responsabilidades que assumimos no momento que geramos uma nova vida. Ter um filho vai muito além de uma realização pessoal, se fosse só isso seria um ato de egoísmo, egocêntrico, um capricho. É muito mais! É um acordo que você faz com a vida, com a natureza e com a sociedade. É uma forma de dizer que acreditamos que é possível um mundo melhor porque, na medida que você tem um filho, você começa a trabalhar com mais intensidade para isso. Começa por se rever, seus velhos hábitos e costumes deverão passar por uma reciclagem, afinal se tornará modelo, querendo ou não. Sua relação com a natureza, com o consumo e com o mundo material também não poderá ser a mesma, mesmo que queira, vai mudar, as prioridades vão se alterar e imediatamente se revela um monte de pequenas felicidades não comerciais ou materiais que preenchem. O resto é supérfluo, é menor.

As outras pessoas também ganham nova dimensão. Ninguém tem um filho para si. Sabe que ele conviverá com tantos outros, que tantos serão parte de sua história e formação e então logo queremos que haja mais gentileza, mais tolerância e respeito no mundo. E para isso, não tem jeito, depende de nós e da maneira como agimos e, pelos filhos, nos tornamos mais cautelosos e atentos a isto também, reforçando o compromisso inicial. Ter filhos não é para os acomodados ou conformistas e, se for um deles, deixará de ser, porque exige ação, reflexão e mudança. Acredito que nossos filhos podem transformar o mundo para melhor e é preciso zelar para que eles acreditem em si também. Mas é necessário cuidar da dose entre ajudá-los a serem confiantes, sem nunca deixarem de ser solidários. Não estamos sozinhos neste mundo e precisamos uns dos outros. Ter um filho é um exercício constante de promoção do bem. Se não for para isto, melhor nem embarcar nesta viagem. O resultado poderá ser desastroso.

São tantas as preocupações e escolhas, cada caminho um horizonte diferente, mas estamos caminhando com eles. Ter filhos é caminhar. Mas, apesar da complexidade, também é bem mais simples do que parece… Filhos precisam de muito menos do que imaginamos. Menos eletrônicos, gravetos e pedrinhas podem ser mais encantadores, menos compromissos e agendas, brincar ao ar livre e um bolo de chocolate feito a quatro mãos podem ser mais formativos, menos roupas impecáveis e mais tênis gastos ou pés no chão. Menos presentes e mais presença. Menos pressa, mais abraços. E pelo futuro deles, mais hoje, porque educar o filho também não dá para esperar, é para hoje, a mudança é para já.

 

Publicado em 28 de maio de 2020

 

Saiba mais sobre a colunista Silvia Adrião:

Sou pedagoga, especialista em Construtivismo/Educação e Mestre em Sociologia da Educação.Tenho mais de 20 anos de experiência no trabalho com crianças e na defesa da cultura infantil. Sou pesquisadora e apaixonada por Literatura infantil e pela abordagem de ensino Italiana de Reggio Emilia. Encontrei na Rebrinc um espaço para ampliar o debate e o alcance das reflexões sobre infância.

Foto: Pixabay

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