Pages Menu
Categories Menu
Roberto Carlos: uma história de afeto e transformação

Roberto Carlos: uma história de afeto e transformação

 

Por Desirée Ruas – Jornalista, especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade

Celebrar os 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente é pensar na importância de cuidarmos da infância de forma plena. Garantir que as crianças mantenham seus sonhos, para que possam vislumbrar um futuro de realizações, é a missão de todos que defendem o ECA e todas as leis e declarações nacionais e internacionais existentes. A proteção da criança hoje significa cuidar do adolescente de amanhã. Proteger o adolescente hoje é dar condições para que ele seja um adulto que, dentre outras coisas, vai ajudar a defender os direitos das crianças. E assim sucessivamente a gente vai costurando laços entre as pessoas de todas as idades com base em direitos e garantias para um mundo melhor para todos.

Sem cuidado as crianças vão sendo adultizadas pela falta de afeto, pela falta de educação, pela miséria, pela violência, pelo crime, pela erotização precoce, pelo trabalho infantil ou por viver em um mundo muito consumista e pouco humano. O descaso com a infância não acontece apenas na vida de crianças sem recursos financeiros. Acontece sempre que a infância é desrespeitada, o que é cada vez mais comum na nossa sociedade, seja em famílias pobres ou ricas.

Para celebrar os 25 anos do ECA, resgato aqui uma das histórias mais incríveis que já ouvi na minha vida. Na década de 70, em Belo Horizonte, um menino viveu dos 6 aos 13 anos longe da família, foi tido como irrecuperável por todas as instituições por onde passou, e fugiu mais de 130 vezes da antiga Febem. Aos 13 anos foi adotado por uma francesa que se negou a acreditar que uma criança como ele pudesse ser um caso perdido. O que o resgatou não foi o alimento, a roupa, a cama quentinha, apesar da importância que isso tudo tem na vida de qualquer ser humano. Ele foi resgatado pelo voto de confiança, pela dedicação e pelo afeto da senhora estrangeira, chamada Marguerit Duvas. Com ela, o menino Roberto aprendeu muitas coisas como ler e escrever, a falar francês e, principalmente, a dar e receber afeto, além de valorizar a si mesmo. De volta ao Brasil, Roberto se tornou pedagogo e adotou treze meninos que viviam em situação de vulnerabilidade.

Roberto Carlos Ramos, chamado de Embaixador do País das Maravilhas, é hoje um palestrante e contador de histórias reconhecido internacionalmente. Sempre com um sorriso no rosto, ele é narrador e personagem principal de uma história que precisa ser ouvida: a necessidade de investirmos e confiarmos em nossas crianças e adolescentes. Ele traz consigo uma bagagem que fala sobre todo o potencial que meninos e meninas em situação de vulnerabilidade guardam dentro de si. Muitos não vão ter a oportunidade de ressignificar suas vidas e seguir por um novo caminho, infelizmente. Mas outros tantos meninos e meninas aguardam apenas uma chance. Precisamos oferecer caminhos seja pela arte, pela música, pelo esporte, com o trabalho como aprendizes, tendo o convívio familiar como alicerce de vida.

Apesar da infância sofrida e da situação de carência e abandono, Roberto fala do seu passado com um sorriso nos lábios e um brilho no olhar. E a gente fica pensando: Roberto Carlos Ramos, se você não existisse seria preciso te inventar… E contar a sua história para meninos que vivem nas ruas e meninos que nunca viveram nas ruas, para homens, mulheres, políticos, educadores e artistas. Felizmente, em 2009, o diretor Luiz Villaça levou para as telas do cinema a história de Roberto no filme O Contador de Histórias. Quem ainda não viu tem que ver. E quem ainda não o ouviu pessoalmente ou em entrevistas, tem que conferir.

Nos 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente e no atual contexto da redução da maioridade penal, precisamos ir além da razão para tocarmos os corações. Vamos sensibilizar pela emoção, pela arte, pela literatura, pelas telas de cinema e pelas histórias do nosso cotidiano. Precisamos cortar esta palavra irrecuperável dos nossos dicionários. O menino que, aos 13 anos ainda não sabia ler, desde os 8 anos contava histórias para os colegas da Febem. E criava e inventava mundos possíveis. Meninos que, como Roberto Carlos, foram privados de afeto, de referências e sofreram com o sistema existem aos montes. O nosso desejo é poder ver multiplicadas as histórias de recomeço, de superação, de possibilidades, muito além do crime, das drogas, da violência, do consumismo e do materialismo que ameaçam nossas crianças e jovens.

 

Seguem aqui alguns links de momentos em que Roberto Carlos Ramos conta sua história.

Filme: O Contador de Histórias (2009) –  trailer

No programa 3a1 com a participação do comentadores Fanny Abramovich, escritora e pedagoga, Bruno Paes Manso, jornalista, e Luiz Carlos Azedo, apresentador.

 

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

Parte 5

 

Entrevista de Roberto Carlos Ramos no programa Jô Soares

Saiba mais no site do pedagogo

 Foto: Divulgação do filme O Contador de Histórias

selo_desiree_01abr

Saiba mais sobre a colunista Desirée Ruas:

Sou jornalista, especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade, palestrante e ativista da infância. Atuo como multiplicadora em educação para o consumo desde 2004 e coordeno o Consciência e Consumo, um movimento que integra educação, mídia, cidadania e sustentabilidade. Sou mãe de duas meninas, vivencio as questões da influência da publicidade e da mídia em casa e nos outros espaços onde atuo. Moro em Belo Horizonte, capital de um belo estado que vem perdendo suas belezas naturais por causa da destruição gerada pela mineração. Lido com temas como água, resíduos, consumo, mobilidade urbana, mobilização e transformação das pessoas e dos ambientes. Buscar caminhos para a construção de cidades mais humanas é um desafio diário. Pensar em nossas crianças nos ajuda a medir o quanto temos avançado nessa busca. Acompanho a temática infância e consumo há alguns anos e o incentivo a uma leitura crítica da mídia sempre fez parte de minhas conversas, textos e apresentações. Fazendo parte da Rede Brasileira Infância e Consumo, Rebrinc, desde sua criação, pude me conectar a pessoas e movimentos que informam, refletem, questionam e inspiram pela construção de uma cultura do cuidado e da paz, pela infância e por todos nós.

Fale com a autora: contato@rebrinc.com.br

Texto feito especialmente para o site da Rede Brasileira Infância e Consumo, Rebrinc. Caso queira reproduzi-lo, pedimos que mencione a fonte e o autor, com link para o site. Ajude-nos a valorizar os autores e a divulgar o nosso trabalho pela infância.

Outros textos da autora

Festas em lojas de brinquedos: o que celebramos afinal?

Trabalho infantil e erotização precoce: quem se preocupa?

Não, nós não estamos!

1 Comment

  1. A pedagogia do afeto nos permite acreditar que a criança de hoje é o futuro brilhante do amanhã. Contar histórias é resgatar o amor e recuperar almas. As histórias curam… o amor transborda!!!

Post a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *