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Recreio na praça!

Recreio na praça!

Por Silvia Adrião – Diretora pedagógica da Scuola Italiana Eugenio Montale (SP) e integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo

“Olha, minha espada é de diamante!”

“Tá! Então vou apertar esse botão e ligar o campo de força. Vamos fazer de conta que a sua espada não consegue quebrar, tá?”

Assim foi a conversa entre duas crianças com um graveto e uma folha caída de uma árvore.

E houve outros diálogos como:

 “Olha! Aqui será o nosso acampamento”.

“Vou conseguir me equilibrar nessa árvore!”

“Achei amoras!”

“Esse galho agora é a minha casa!”

 

A escola deve ser um espaço que promove o desenvolvimento integral da criança. Isso quer dizer que deve garantir oportunidades formativas que contemplem as dimensões sociais, culturais, físicas, emocionais e intelectuais dos sujeitos. Partindo deste princípio, é fundamental que a escola crie vivências que possam ir além da sala de aula, superando a ideia de que é somente naquele espaço que a aprendizagem acontece. Uma escola atenta à formação integral de seus educandos sabe que todos os espaços escolares e também extraescolares possuem um enorme potencial formativo.

“O território ganha, portanto, um papel central no processo de ensino-aprendizagem: pessoas, saberes e recursos diferenciados podem ser articulados ao itinerário formativo dos alunos, enriquecendo seu repertório, ampliando seu olhar sobre o território e fortalecendo sua autonomia para estabelecer conexões possíveis para além das instituições.” Saiba mais aqui.

Trabalhar com esta concepção é um desafio, pois exige reflexão e a condução da escola por novos caminhos, porém é urgente e necessário, se quisermos realmente promover um ensino conectado com as demandas das crianças e dos jovens e com as exigências do mundo contemporâneo. Muitas vezes, assumir este compromisso, está mais perto do que imaginamos. Não são, necessariamente, os aparatos tecnológicos ou as grandes inovações que se nos aproximam destas demandas ou nos garantem o desenvolvimento integral dos alunos. Ações aparentemente simples podem também promover grandes mudanças. É por isso que compartilhamos aqui uma prática que exemplifica como uma simples ação pode contemplar estes princípios. Com o objetivo de ampliar as possibilidades de interação entre as crianças e o ambiente que as cerca, a Escola Italiana Eugenio Montale promoveu o “Recreio na Praça”.

A ideia foi a de frequentar a praça vizinha à escola, durante o intervalo, com a expectativa de desemparedar as crianças, de proporcionar momentos de brincadeiras ao ar livre e ocupar os espaços da comunidade que servem para este fim: brincar!

Esta iniciativa, apesar da forma de vida que se leva numa cidade grande como São Paulo, que mais distancia do que une, contou com o apoio da grande maioria dos pais da escola.

Na perspectiva da educação integral e de uma cidade educadora*, a formação de crianças e jovens acontece de forma permanente e a apropriação dos espaços públicos lhes ajuda a construir o sentimento de pertencimento à comunidade em que vivem, tão importante para a sociabilidade, a formação de identidade e conceito de cidadania.

Sob esse olhar, temos o “Recreio na Praça” como mais uma possível contribuição para a permanente construção de uma bem-vinda relação entre escola e o contexto em que está inserida.

Nota: A Scuola Italiana Eugenio Montale vem trabalhando com esta perspectiva, buscando a superação do ensino fragmentado e construindo cotidianamente um fazer escolar que esteja comprometido com a formação integral do estudante. Em 2016, a escola foi incluída no mapeamento do Centro de Referência em Educação Integral como uma das referências com esta abordagem.

(*) O movimento das Cidades Educadoras teve início em 1990 com o I Congresso Internacional de Cidades Educadoras, realizado em Barcelona, na Espanha, onde um grupo de cidades pactuou um conjunto de princípios centrados no desenvolvimento dos seus habitantes que orientariam a administração pública a partir de então e que estavam organizados na Carta das Cidades Educadoras, cuja versão final foi elaborada e aprovada no III Congresso Internacional, em Bolonha, na Itália, em 1994. A concepção de Cidade Educadora remete ao entendimento da cidade como território educativo. Nele, seus diferentes espaços, tempos e atores são compreendidos como agentes pedagógicos que podem, ao assumirem uma intencionalidade educativa, garantir a perenidade do processo de formação dos indivíduos para além da escola, em diálogo com as diversas oportunidades de ensinar e aprender que a comunidade oferece.

Equipe responsável: Silvia Adrião, Paola Capraro, Marcella Olivati e Aderli Tringoni

Fotos: Arquivo Eugenio Montale

 Colunista Rebrinc - Silvia Adrião

Saiba mais sobre a colunista Silvia Adrião:

Sou pedagoga, especialista em Construtivismo/Educação e Mestre em Sociologia da Educação.Tenho mais de 20 anos de experiência no trabalho com crianças e na defesa da cultura infantil. Sou pesquisadora e apaixonada por Literatura infantil e pela abordagem de ensino Italiana de Reggio Emilia. Encontrei na Rebrinc um espaço para ampliar o debate e o alcance das reflexões sobre infância.

Fale com a autora: contato@rebrinc.com.br

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