Qual é o trabalho na infância?
Por Silvia Adrião – Integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo
Feche os olhos e imagine em que tipo de sociedade você gostaria de viver. Imaginou? Nela você viu crianças sujas de carvão? Crianças trabalhando até a exaustão? Jovens sem formação? Gerações de brasileiros negligenciados?
Tenho certeza que a grande maioria imaginou uma sociedade com crianças felizes e brincando, apropriando-se de conhecimentos de forma saudável, em uma escola bem estruturada, uma sociedade com pessoas qualificadas, conscientes, gentis e zelosas com o mundo e com o outro. Também não é difícil que tenha pensado nessas crianças no futuro, compondo uma geração de jovens bem formados e cuidados… Se é essa a sociedade que você quer, é preciso combater o trabalho infantil e a simplificação do tema.
A discussão sobre o trabalho infantil e seus impactos é necessária e merece toda a atenção da sociedade e das autoridades. Embora os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmem que haja avanços no combate ao trabalho infantil, ainda temos muito a fazer: trabalho infantil é coisa séria, triste e tira a chance de milhões de crianças de se desenvolverem de forma integral, equilibrada e com esperança. Só poderemos atingir a sonhada sociedade com investimento consistente na infância; oferecendo proteção, educação, lazer, apoio físico e emocional às crianças. Não é simples mas é urgente.
É evidente que toda criança pode e deve colaborar em seu lar, e que é possível atribuir a ela responsabilidades proporcionais – não é disso que estamos falando. Referimo-nos a quanto é necessário orientar os pais e as famílias sobre o que é trabalho infantil e o quanto isso afeta toda a sociedade.
É preciso desnaturalizar esta condição. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), crianças expostas ao trabalho infantil são mais vulneráveis para a exploração sexual, para o tráfico e a vários tipos de violência. Isso não interessa a ninguém, pois o ciclo da violência atinge, de uma maneira ou de outra, a todos. Por este motivo, quando ouvir “melhor assim do que roubando”, pondere e diga “melhor brincando, aprendendo coisas belas e sonhando”. É melhor para a criança e melhor para toda a sociedade.
O principal “trabalho” na infância é brincar! Brincando, a criança aprende, elabora emoções e se desenvolve plenamente. Brincar não deve ser privilégio de uma parte das crianças da sociedade; ao contrário, é um direito de todas as crianças e solo fértil para um mundo melhor.
Saiba mais sobre a colunista Silvia Adrião:
Sou pedagoga, especialista em Construtivismo/Educação e Mestre em Sociologia da Educação.Tenho mais de 20 anos de experiência no trabalho com crianças e na defesa da cultura infantil. Sou pesquisadora e apaixonada por Literatura infantil e pela abordagem de ensino Italiana de Reggio Emilia. Encontrei na Rebrinc um espaço para ampliar o debate e o alcance das reflexões sobre infância.
Fale com a autora: contato@rebrinc.com.br
Foto: Pixabay