Precisamos de material escolar novo?
Por Maria Belintane Fermiano* – Doutora em Educação e especialista em Desenvolvimento Humano
Sempre é hora de refletir sobre nossos atos de consumo. Nos dias de hoje vivemos uma crise hídrica de grandes proporções. Todo produto que consumimos tem em sua produção a utilização de água. Ou seja, economizar água vai além de fechar a torneira.
Gostaria de apontar a relação entre água e material escolar. Chamo a atenção para a lista de material escolar solicitada pelas escolas ao início de todos os anos letivos. Crianças e adolescentes, em sua grande maioria, iniciam o ano com todo o material escolar novo: lápis, borracha, apontador, cadernos, mochila. Basta olhar as salas de aula e os materiais reluzentes em cada carteira e, destaco outro ponto, algumas vezes esses materiais são renovados logo após as férias de julho!
Não se observa o hábito de fazer uma análise, examinar, separar, limpar para reaproveitar os materiais. É “mais prático” comprar tudo novo. Além de não ser saudável para o bolso, comprar material escolar sem necessidade impacta severamente o meio ambiente. Consideremos que sejam descartados, anualmente, 30 folhas de sulfite que ficaram amassadas e cinco cadernos com sobra de 30 folhas cada um. No total são 180 folhas que poderiam ser utilizadas e não foram. Segundo o Instituto Akatu, que também faz parte da Rebrinc, são necessários 10 litros de água para produzir uma folha de sulfite A4! A aritmética é bem simples: 180 folhas descartadas representam 1.800 litros de água. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece o consumo mínimo per capita de cem litros diários de água para saciar a sede, ter uma higiene adequada e preparar os alimentos. Sendo assim, teremos 18 dias de água que foram para o lixo.
É bom lembrar que temos dois compromissos: um com o meio ambiente e o outro com a educação do consumidor. O primeiro diz respeito à importância de se reaproveitar todos os materiais e objetos que possuímos, para nosso próprio benefício e, em consequência, do meio ambiente também. O segundo porque é um ótimo momento para dizer NÃO. Não ao consumo impulsivo de nossos filhos que querem materiais novos. Não ao desejo de comprar peças ilustradas com personagens famosos de TV ou de desenhos animados. Eles não precisam de toda linha de produtos de seu personagem favorito, um ou dois itens, serão suficientes para atender sua necessidade de faz de conta.
Procure observar que há alguns cadernos do ano passado que estão em condições de serem reutilizados e que podem dar sequência às anotações das crianças e dos adolescentes. Uma capa nova pode ajudar a deixá-lo com outra cara. O estojo e a bolsa podem ser limpos, customizados e ficarão parecendo praticamente novos.
Lembre-se também de que, se um ou outro material necessitar de reposição, ao longo do ano, você, com certeza conseguirá um preço muito melhor do que os praticados no início do ano.
Então, coloque a ideia em prática.
* Saiba mais sobre a colunista Maria Belintane Fermiano.
Olá, meu nome é Maria Belintane Fermiano e também estou na Rede Brasileira Infância e Consumo. Moro em Sumaré, São Paulo, sou casada, mãe do Luiz Felipe de 17 e do João Vitor de 16. Tenho uma longa carreira no ensino público. Sou Doutora em Educação e especialista em Desenvolvimento Humano, trabalho com formação de professores e ministro palestras para pais com o tema Educação para o Consumo. Em minha tese estudei pré-adolescentes, “os tweens”, e descobri toda sua vulnerabilidade diante das solicitações do marketing. Hoje meu foco é elaborar o Programa Educação para o Consumo, cujas propostas pedagógicas auxiliam alunos, pais e professores a fortalecer um comportamento de consumidor consciente. Sempre discutimos os desejos, as necessidades e as coisas que realmente precisamos para sermos felizes!
Fale com a autora: contato@rebrinc.com.br
Texto feito especialmente para o site da Rede Brasileira Infância e Consumo, Rebrinc. Caso queira reproduzi-lo, pedimos que mencione a fonte e o autor, com link para o site. Ajude-nos a valorizar os autores e a divulgar o nosso trabalho pela infância.