Por que o Chaves faz sucesso?
Desirée Ruas é jornalista e pós-graduada em Educação Ambiental e Sustentabilidade. Coordenadora do Consciência e Consumo. Integrante da Rebrinc.
Texto publicado originalmente no site Consciência e Consumo.
Com a morte do ator, escritor e comediante mexicano Roberto Bolaños, conhecido como Chespirito, aos 85 anos, seus personagens ganharam espaço na mídia em discussões sobre a programação infantil na televisão. Aqui no Brasil, Chaves e Chapolin são velhos conhecidos de gerações e se tornaram produções clássicas.
O seriado Chaves tem como protagonista uma criança carente de tudo: não tem pai, mãe, irmãos, casa ou comida. Mas apesar de todas as suas dificuldades, o menino de olhar triste de apenas oito anos quer apenas brincar. Na história, suas brincadeiras sempre terminam em confusão, envolvendo todos os moradores da vizinhança, sempre coroada com suas frases características como “ninguém tem paciência comigo!”, “foi sem querer querendo” ou “tá bom, mas não se irrite”. Chaves estreou no Brasil em 1984, dentro do Programa do Bozo, do SBT. Os 250 episódios comprados foram produzidos durante a década de 70 e são exibidos até hoje por aqui pela mesma emissora.
Sempre falamos muito na carência de boas produções televisivas para as crianças e nos preocupamos com o que nossos filhos estão vendo. Sabemos que alguns pais amam Chaves e outros nem tanto. Mas o fato é que muitos de nós crescemos vendo Chaves ou Chapolin. Hoje, nossos filhos também assistem e gostam, rindo das mesmas cenas simples e previsíveis que nós víamos décadas atrás. Talvez o Chaves não seja uma referência para as produções atuais, com outras linguagens e formatos. Além dos infinitos recursos tecnológicos, cenários e figurinos bem mais elaborados, hoje um seriado feito para crianças não teria um professor fumando charuto durante as aulas ou um adulto dando beliscões em um pobre menino. Uma mulher que, para proteger seu filho, vive estapeando o vizinho também certamente não faria parte do roteiro. Apesar das cenas que retratam uma outra época, por que o seriado mantém a sua audiência no Brasil depois de 30 anos de sua primeira exibição? Acredito que a resposta vai além do fato da emissora ter o hábito de exibir conteúdos produzidos pela TV mexicana. Há algo doce e ingênuo no seriado que foi produzido para toda a família e conquistou fãs em vários países do mundo.
O seriado aborda, com leveza, o drama das crianças sem um lar para viver, realidade que infelizmente existe em várias partes do mundo. Mostra também um pai que cria sua filha sozinho e uma mãe também solitária na difícil tarefa de educar seu tesouro. E, na escola, o professor faz um esforço imenso para ensinar seus alunos. A vila é o retrato de qualquer condomínio ao mostrar a difícil convivência entre vizinhos. Mas mesmo com as brigas, os moradores da vila formam uma família e todos se comovem com a fome, a carência e a falta de cuidado do menino que está sempre no barril. Todos se conhecem, se ajudam, mostrando como a solidariedade é um valor forte e constante. E é no pátio, espaço de interação dos personagens, que a garotada vive muitas aventuras, constrói castelos com tijolos e navega em mares de lama. Naquele espaço de muitos encontros e desencontros vivem personagens com muitas carências e problemas, mas também existe uma infância recheada de amigos inesquecíveis, diversão, sonhos e imaginação. Então, qual criança não gostaria de morar na vila do Chaves?
Para saber mais: Seriado destacava a relação entre Estados Unidos e América Latina
Foto: Reprodução – Chavo del 8