Os sentidos do consumo
Por Corinne Julie Ribeiro Lopes* – Advogada e gestora social
Nos últimos 60 anos, ao passarmos da modernidade para o mundo contemporâneo, vimos o consumo se transformar. No século XIX, já havia sinais dessa transformação: nasce o colecionador de objetos e o supérfluo entra em cena. Muda-se a experiência subjetiva do consumo e a análise dessa experiência começa a se deslocar para o campo da linguagem, do símbolo. O consumo passa a ser uma experiência central na vida das pessoas.
A partir daí, as pessoas não mais consomem para viver mas vivem para consumir.
Sábado pela manhã, no último final de semana do mês de novembro, assisti estupefata a um dos episódios do Black Friday desse ano de 2015. Em uma loja em Brasília foi formada uma fila para aquisição de uma bolsa no valor de R$5.000,00. Diante desse notícia, eu e meu marido ficamos pensando: quanta simbologia está contida em nossos padrões de consumo?
Pensem bem: se fosse dada, a essas consumidoras, a oportunidade de comprar essa mesma bolsa vendida nessa loja em Brasília ou qualquer outro produto de preço exorbitante, com um mero detalhe, sem a etiqueta ou sem se poder mostrar a origem desse produto, essas consumidoras ainda o comprariam?
Hoje, as pessoas adquirem etiquetas e rótulos com a mera finalidade de serem transplantadas, ainda que por meros segundos de suas vidas, a outro círculo social; um círculo social entendido como privilegiado. Essas etiquetas e rótulos trazem consigo um efeito de pertencimento a um círculo restrito de consumo que carrega em si poder, vaidade, exclusividade e status social.
E nessa espiral de ilusões, percebe-se a dimensão do quanto consumimos para o outro. Assim como muitos de nós, nos vestimos para o outro. Para muitos de nós, as coisas só possuem valor quando são caras e pertencem a essa ou aquela marca… Temos vergonha em dizer que as coisas são baratas, foram adquiridas em brechós ou coisa do tipo. Parece desvalorização dizer que conseguimos pechinchar algo.
Hoje em dia, não mais compramos apenas produtos e serviços. Compramos sensações, experiências de consumo. Hoje é mais chique comprar hambúrguer gourmet; quase não mais se compra hambúrguer de trailer. É chique! Brigadeiro tradicional, nem pensar. Brigadeiro tem que ser gourmet: de limão, de paçoca, de doce-de-leite. Coitado do velho e tradicional brigadeiro!
E assim vamos inventando, além das sensações e experiências de consumo, eventos de consumo como o Black Friday, que nada mais é que uma apologia ao consumismo onde ai de quem não aproveite o momento e dê seu quinhão nesse evento…
Foto: Internet
Publicado em 15/12/2015
* Saiba mais sobre a colunista Corinne Julie Lopes
Meu nome é Corinne Julie. Sou de Conselheiro Lafaiete, moro atualmente em Belo Horizonte mas já visitei e morei em outros mares e montanhas… Assim como o significado do meu nome, sou cor, magia e alegria. Amante de livros, fotografias e boas viagens, encontrei na Rebrinc, espaço para algumas inquietações minhas. Sou advogada, gestora social e mediadora de conflitos. Sócia-fundadora do CEDECA MG (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente) e mestre em Educação, Gestão Social e Desenvolvimento Local. Acredito que boas ideias e várias atitudes podem mudar o mundo.
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Texto feito especialmente para o site da Rede Brasileira Infância e Consumo, Rebrinc. Caso queira reproduzi-lo, pedimos que mencione a fonte e o autor, com link para o site. Ajude-nos a valorizar os autores e a divulgar o nosso trabalho pela infância.