Infância, maternidade e as armadilhas do consumo
Por Silvia Adrião – Diretora pedagógica da Scuola Italiana Eugenio Montale (SP) e integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo
Às vésperas do Natal e se vê certa histeria coletiva em busca de presentes… Principalmente para as crianças… Bem, ok, nada de novo… O que tenho refletido é como somos manipulados pela grande indústria e caímos nas armadilhas. Alguns exemplos: a criança fazendo a maior birra em frente à loja de brinquedos (vi uma mãe que até no chão sentou com o menino para acalmá-lo da birra e dos gritos) e todos que passavam olhavam e se olhavam e certamente pensavam: “que criança mal-educada”, “que mãe mole e que deixa fazer um show desses”…
Já parou para pensar o quanto os pais e as crianças são bombardeadas pelas ideias do consumo? Dos brinquedos? Do tenha isso e serás assim, coma isso e serás aquilo, tenha para pertencer…? Xiii, não tem… não pertence… Não precisamos de nem muito tempo diante de qualquer mídia para que estes bombardeios se iniciem… Mas as pessoas preferem pensar que a mãe é fraca, que o pai é incompetente… É sempre o indivíduo culpabilizado pela manipulação de massa que recebe. Não era hora de rever o uso da mídia para crianças? O quanto a legislação permite e manipula os gostos e preferências? O como a propaganda infantil é antiética?
Outro exemplo: a maternidade nos tempos atuais… Nossa! Como pode ter filhos se nem tem tempo para eles? Para que colocar filho no mundo se é para terceirizar? Outra armadilha… Não é hora de revermos o mercado de trabalho para a mulher? Se faz urgente reconhecer e permitir uma maternidade mais íntegra…e a paternidade também! Mas não, a culpa é do individuo que resolveu ter filho… Que loucura!…Que inversão de valores! Mais uma vez o micro é culpabilizado por uma estrutura macro que consome e engole as pessoas e sua humanização. É hora de mudar o mercado de trabalho. De ampliar e permitir que sejamos pais e mães e mesmo assim profissionais. Não dá mais para permitirmos isso. É esta lógica que está errada e não o contrário.
E as armadilhas são tantas: a culpa é da saia da menina e não do machismo inculcado, a culpa é daquela mulher que é vulgar e não da mídia que a faz um objeto, a culpa é do excesso de vaidade da outra e não de uma cultura da perfeição que não permite nem que envelheçamos com serenidade…
Estejamos atentos aos conceitos e preconceitos. Mudemos nossos olhar e gradativamente nosso agir. Lutemos por uma revolução de visões que nos aproxime de verdade do que nos torna mais humanos.
Saiba mais sobre a colunista Silvia Adrião:
Sou pedagoga, especialista em Construtivismo/Educação e Mestre em Sociologia da Educação.Tenho mais de 20 anos de experiência no trabalho com crianças e na defesa da cultura infantil. Sou pesquisadora e apaixonada por Literatura infantil e pela abordagem de ensino Italiana de Reggio Emilia. Encontrei na Rebrinc um espaço para ampliar o debate e o alcance das reflexões sobre infância.
Fale com a autora: contato@rebrinc.com.br