Infância, brincadeira e consumo
Por Desirée Ruas – Jornalista, especialista em educação ambiental e sustentabilidade e integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo, Rebrinc
“Proibido brincar de pega-pega, esconde-esconde e amarelinha na área do playground”, diz o regulamento de um prédio residencial em São Paulo. Quem nunca deparou com regras como essa que desrespeitam o direito das crianças à brincadeira? Situações desse tipo confirmam, na prática, o alerta do recém-lançado documentário Tarja Branca – A Revolução que Faltava, sobre a atual ausência de espaço e de tempo para o ato de brincar.
Em meio a cenas que resgatam o passado, o filme mergulha na nostalgia dos adultos para reforçar a importância da infância. Com depoimentos de especialistas, artistas e brincantes por natureza, Tarja Branca fala sobre as diversas expressões do brincar na vida do ser humano.
O filme questiona a seriedade da vida e o peso da sociedade de consumo sobre adultos e crianças. A movimentação das pessoas nas grandes cidades, o trânsito sufocante e o mar de concreto se mesclam às brincadeiras na praia, na terra batida e em cima das árvores. Tendo como matérias-primas a imaginação e a interação, o documentário defende a ideia de que brincar é ter contato com experiências que ensinam a conviver com o outro e que permitem uma conexão entre a criança e a sua própria natureza, assim como com o ambiente em que vive.
Tarja Branca nos faz pensar sobre a engrenagem que move o consumo e o constante interesse pelo produto da vitrine. Com o brinquedo acontece a mesma coisa: o desejo de consumo é dado pela indústria e, como já está pronto, o produto não exercita a imaginação. Após a compra, a criança logo vai querer outro.
O que acontece quando as crianças deixam de brincar de verdade? O que elas deixam de vivenciar e de aprender presas a atividades e espaços limitadores, com inúmeras atribuições, valores materialistas, intenso estímulo ao consumo, bombardeio da publicidade e excesso de telas?
Um sopro de ânimo e de preocupação, Tarja Branca é um convite à tomada de consciência sobre a forma como vivemos, sobre a sociedade de consumo, a infância e a importância do resgate da dimensão afetiva, lúdica e criativa que existe em todos nós.
FICHA TÉCNICA:
Título: Tarja Branca – A Revolução que Faltava
Gênero: documentário
Direção: Cacau Rhoden
Produção: Maria Farinha Filmes
Apoio: Instituto Alana
Duração: 80 minutos
Como assistir: em DVD nas livrarias; à venda pela internet no iTunes (acesse: http://goo.gl/wX5LT8); e disponível no Netflix.
Texto publicado na Revista do Idec – Outubro de 2014