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Festas de 15 anos e os detalhes da comemoração

Festas de 15 anos e os detalhes da comemoração

Por Desirée Ruas. Jornalista e especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade

Début significa estreia, início. Os bailes de debutantes começaram há muitos séculos com os nobres europeus. Aos 15 anos, as adolescentes eram apresentadas à sociedade em uma festa suntuosa. Bem antigamente, o baile era realizado na esperança de encontrar algum pretendente para a filha, já pensando no casamento da jovem.

Trocada por viagens e presentes caros, a comemoração já passou por fases. Atualmente, muitas festas de 15 anos são superproduções. Os bailes não costumam ser coletivos, como já foram em outras épocas, quando quinze moças faziam a comemoração juntas, em clubes da cidade. Dançavam com quinze rapazes ou com algum convidado famoso, cantor ou ator da época. A tradicional valsa com o pai à meia-noite continua existindo mas pode acontecer também com coreografias ensaiadas anteriormente e com um mix de músicas: funk, pagode, eletrônico, sertanejo, samba, pop…

Uma das tradições é a entrega de uma boneca da aniversariante para uma criança da família. Há também a troca do sapato de criança por um salto durante a festa. Somente após chegar aos quinze é que a menina podia usar roupas e sapatos de mulher. Hoje, os tempos são outros. Cada vez mais cedo as meninas assumem visual e comportamento de mulher. Influência da mídia e do ambiente em que estão inseridas em que usar maquiagem, pintar as unhas e estar com roupas provocantes são naturais para meninas com muito menos de 15 anos. Um retrato da adultização precoce que deveria nos preocupar. Mas infelizmente é encarada sem alarde por muitos.

Nas festas atuais, a maior parte dos convidados tem entre 14 e 16 anos, idade em que o consumo de bebida alcoólica é proibido. Mas, em alguns eventos,  a bebida fica disponível também para os jovens. A tolerância ao consumo de bebida alcoólica por menores de idade é muito grande, mesmo pelos familiares. Seja cerveja, vinho, uísque ou coquetéis alcoólicos, para alguns organizadores de eventos, a ordem é evitar os abusos dos jovens durante a festa. Mas não é apenas o consumo exagerado que preocupa. O consumo de qualquer quantidade já infringe a legislação atual e expõe os jovens ao álcool desde muito cedo. ‘Se não tiver bebida, os meninos vão embora e dizem que a festa da menina foi péssima’, argumentam. No final das contas, muitos pais de debutantes e integrantes de empresas de cerimonial driblam a proibição e garantem o álcool para menores. Em algumas festas, há uma pulseirinha colorida para os adultos e quem não tiver uma não poderá beber. Maneiras para o controle sempre existem. Basta boa vontade.

Outro ponto diz respeito à competição entre as debutantes. Será que uma festa tem sempre que superar a da amiga que aniversariou no mês anterior? Las Vegas, Hollywood, havaiana, baile de máscaras, oriental ou festas personalizadas com tudo o que a aniversariante quer. Pais e mães realizando os desejos das filhas como se fossem os seus próprios desejos. Convites elaborados, cenários, fotografias e vídeo, website da festa, lembranças, três ou mais vestidos, maquiagem, coreografias, presentes, decoração, enfim, algumas horas na vida da jovem e 20, 40, 60 ou 100 mil a menos na conta da família.

Celebrar é bom e positivo. Assumir dívidas não. Gastar além da conta também não. Desperdício de alimentos e ostentação também merecem ser repensados. Seja qual for o perfil econômico da família, todos gastam além da conta. E boa parte fica endividada.

Festas que começam às 23h e terminam ao amanhecer, muitos jovens sem os pais por perto, convidados que nem sempre têm alguma relação com a aniversariante, familiares mais velhos alheios à comemoração e fugindo da música alta, muito consumo e pouca essência. O baile virou balada e o sentido da comemoração mudou completamente. A moda das festas vai continuar, criando um cenário de fantasia e um dia de princesa ou superstar. Há um brilho que encanta e ofusca quem realiza festas, seja dos filhos crianças ou adolescentes ou mesmo uma festa de casamento.

Mas, afinal, precisamos de tanto para comemorar 15 anos ou qualquer outro tipo de celebração? O que é uma comemoração verdadeira? Para uma festa ser boa ela tem que ser sustentável e fazer sentido, garantir o bem-estar dos convidados, promover a alegria e um clima de segurança e harmonia. Os modelos que são impostos por quem lucra com a indústria das festas podem e devem ser questionados.

O consumismo na adolescência e as escolhas sem reflexão merecem um olhar atento e cuidadoso. Momentos de transição, da infância para a idade adulta, podem ter um marco, um acontecimento, uma lembrança. Mas como temos encarado tal fase da vida? Uma grande dúvida é definir o momento em que podemos considerar que nossos filhos ou filhas deixaram de ser crianças. O que representa, nos dias de hoje, ter 15 anos? Como as famílias estão dedicando seu tempo e energia para cuidar dos seus adolescentes? Sentamos para conversar apenas quando o assunto é a organização da festa? Apresentar para a sociedade jovens com essência, com valores, vontade de aprender e responsabilidade. Eis um desafio dos nossos tempos.

Festas 15 anos

Publicado originalmente no blog Conversando sobre Adolescência.