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Ensino não é fábrica

Ensino não é fábrica

Por Regina de Assis – Consultora em Educação e Mídia e integrante da Rebrinc

Publicado originalmente no Jornal O Globo

Um anúncio da prefeitura do Rio de Janeiro, ilustrado por uma foto em que crianças fazem parte de uma linha de produção, informação que é reiterada na legenda da publicidade divulgada nos jornais, vem levantando grande revolta nas redes sociais e entre todos os que nos preocupamos com a educação pública de nossa cidade.

Há muitos anos, a educadora Maya Pines publicou um livro em que demonstrava que as escolas podem atender a três modelos: o de um jardim, o de uma linha de produção e o de uma viagem. No primeiro, crianças e adolescentes seriam comparados a flores, que necessitam de ar, água e cuidados para crescer, modelo no qual, obviamente, seus professores seriam os jardineiros. Como parecem fazer crer as intituladas EDI, Escolas de Desenvolvimento Infantil, no Rio de Janeiro. No entanto, é importante lembrar que crianças não se desenvolvem como flores, posto que interagem, são curiosas, vêm de situações familiares e socioeconômicas diferentes, apresentando rica e desafiadora diversidade.

O segundo modelo de escola descrito por Maya Pines é, justamente, o da linha de produção, semelhante ao proposto pela visão taylorista/fordista do início do século XX, com o pressuposto de que, fornecendo escolas, carteiras, quadros de giz, livros e materiais necessários ao processo de ensino a serem usados por professores e estudantes durante o ano letivo, obtêm-se resultados pedagógicos desejados. Simples assim, como apresentado na publicidade utilizada pela prefeitura do Rio no ano de 2014 do século XXI. Com o agravante de que são usadas três crianças sentadinhas em suas carteiras, enfileiradas em cima de uma esteira movida por engrenagens próprias de uma linha de produção. Como no filme “Tempos modernos”, de Chaplin, ou na cena antológica de “The Wall”, de Alan Parker. Assustador, no mínimo!

Ora, educar supõe constituir conhecimentos e valores na ampla e desafiadora diversidade de situações vividas nas escolas públicas por estudantes e professores. Esse processo exige planejamento, integração de conhecimentos articulados por um núcleo curricular básico, enriquecido pelas linguagens audiovisuais, digitais e impressas, em que avaliações constantes reorientam o rumo das atividades pedagógicas, visando ao êxito de crianças, adolescentes e seus professores. Esse paradigma está mais próximo da viagem proposta por Maya Pines, na qual se sabe de onde se parte para os 200 dias letivos, planejando-se o rumo desejado, embora haja espaço, tempo e variedade de soluções para eventuais mudanças ou acidentes de percurso, avaliando-se constantemente as interações entre estudantes e seus professores.

Embora diferentes, as oportunidades contemplarão a todos. Muito distante, portanto, da solução simplista e padronizada da publicidade — e certamente da proposta pedagógica que a alimenta no município do Rio —, reduzindo a tal Fábrica de Escolas do Amanhã à função de construir escolas uniformes, em que alunos são colocados em fôrmas, para um futuro incerto.

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