Educação domiciliar? As crianças e os jovens precisam da escola!
Por Silvia Adrião – Pedagoga e integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo
Escola e família realizam papéis fundamentais para a formação integral das crianças, porém distintos. Na família, a criança funda seus vínculos afetivos, suas primeiras experiências de convivência, conhecimento do entorno e encontra abrigo e segurança para começar a crescer. Este é o cenário desejável para todas as crianças. Ainda em casa, a criança aprenderá valores, incorporará hábitos e práticas que são importantes para sua família.
Na escola, a criança entrará em um outro contexto, ainda mais estruturante para a vida em sociedade. Conhecerá pessoas que compartilham dos mesmos hábitos e práticas e também poderá alargar sua visão de mundo, descobrir que há pessoas diferentes, outras culturas, ampliará sua experiência como cidadã, enquanto aprende a ouvir e ser ouvida, debater e opinar, respeitar o ponto de vista alheio, entre outras práticas cotidianas que formam para a cidadania e a vida.
Na escola, os vínculos são de outra natureza e por isso a convivência é tão importante, se aprende a entender os limites, seus e dos outros, e as consequências das escolhas para além das relações amparadas pelo afeto. Desenvolve-se a responsabilidade social com base na condição de humanos que partilham da mesma existência. Família e escola são instituições que se complementam, se apoiam, e juntas promovem a formação do indivíduo. Não podemos abrir mão desta etapa na vida, que é a escolar.
Além da prática da vida em grupo, na escola há um trabalho estruturado e intencional, realizado por especialistas, para a promoção do contato com os mais variados conhecimentos que a humanidade já pode desenvolver. É um direito da criança e do jovem saber a história de seu povo, de seu país, conhecer a arte, a música, os descobrimentos científicos mais incríveis, as mudanças sociais e econômicas, os ciclos da natureza e a poesia. São inúmeros os saberes que a escola pode abrigar e que não chegariam até o educando se não fosse através dela. Nenhuma experiência, unicamente doméstica, poderia ser tão enriquecedora, até porque não passa só pelo contato individual com estes conhecimentos, mas se trata de uma aprendizagem compartilhada.
Só pelo direito ao conhecimento compartilhado e à convivência social, para além das relações afetivas familiares, a discussão sobre educação domiciliar já se torna preocupante, porém há outros dados que tornam a escola ainda mais necessária. Para muitos, é o lugar que os protege do medo, da violência, da exploração e da fome. Equipar melhor nossas escolas, com recursos físicos e humanos, investir em mais formação para os educadores, ampliar o acesso e a qualidade deveriam ser o grande debate dos agentes públicos. Todo o resto é energia desperdiçada.
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Publicado em 22 de junho de 2021
Saiba mais sobre a colunista Silvia Adrião:
Sou pedagoga, especialista em Construtivismo/Educação e Mestre em Sociologia da Educação.Tenho mais de 20 anos de experiência no trabalho com crianças e na defesa da cultura infantil. Sou pesquisadora e apaixonada por Literatura infantil e pela abordagem de ensino Italiana de Reggio Emilia. Encontrei na Rebrinc um espaço para ampliar o debate e o alcance das reflexões sobre infância.