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Crianças em férias: tédio? Descanso? Alegria?

Crianças em férias: tédio? Descanso? Alegria?

Por Angela Meyer Borba e Maria Inês de C. Delorme – Autoras do blog Papo de Pracinha

É verão, faz calor e as crianças estão de férias da creche ou da pré-escola. Quando os pais conseguem também tirar férias do trabalho e fazer um passeio maior, reunindo a família, essa época pode ser de alegria e de felicidade para todos, mas nem sempre acontece assim.

Na idade que, em geral, homens e mulheres têm filhos pequenos é comum que exista um grupo grande em cada empresa com as mesmas características e demandas. Assim, marcar as férias profissionais junto com as férias das crianças nem sempre é fácil. A empresa não pode parar no verão, dizem os chefes, com as suas razões.

Mas as crianças não escolhem seus períodos de férias e, assim, quase todas as pré-escolas têm férias numa mesma época, embora ainda existam algumas poucas creches que sequer têm férias coletivas, o que pode auxiliar aos pais, mas gera muitos outros problemas para a instituição e às vezes, também, para as crianças.

Todos precisam ter um período de descanso: pais, empregados domésticos, babás, funcionários que trabalham nas creches, nas escolas e professores.

A casa que sitia a creche, ou a escola, precisa de pequenas obras de manutenção e de reparos como pintura, limpeza de caixas d’água, desinfecção, dedetização etc. Pode-se imaginar que as instituições que funcionam direto, sem qualquer período de descanso, como algumas creches, têm o desafio de fazer essa manutenção e os reparos com as crianças presentes, além de ser necessário dar férias aos professores e funcionários durante o período regular de trabalho, ao longo do ano letivo. Isso é muito complicado na dinâmica cotidiana das instituições que trabalham com crianças.

Enfim, embora o termo “férias” indique um “período de repouso necessário para que o corpo humano funcione com toda a sua potencialidade”, eventualmente a administração do período de férias das crianças pode não ser suave nem livre de estresses para os adultos. Há crianças que gostam e querem repousar, quando isso significa quebrar a rotina e não acordar cedo todos os dias, por exemplo. Há aquelas que choram de saudades dos amigos e da escola. Por que será?

Talvez, como ponto de partida, valha avaliar se a energia que os pais gastam para programar o “período letivo” é a mesma usada para planejar as férias das crianças, em especial, quando elas não serão acompanhadas por eles nesse período. Não é fácil, mas é preciso pensar e conversar com as crianças sobre isso.

Voltando às crianças, como todos os seres humanos, elas criam hábitos de vida pela recorrência com que certas coisas acontecem no dia-a-dia. Acordar, escovar os dentes, ir à creche ou à escola, voltar, tomar banho, brincar no play, ir à natação, na casa da amiga, ou da vovó são regulações estabelecidas pelos adultos, mas vividas por elas. Só pelo fato de essa rotina ser quebrada, pode gerar certo desconforto neles. Ao mesmo tempo, há crianças que têm uma rotina mais suave, que já têm o habito de brincar sozinhas em suas casas, por exemplo, e que sentem conforto com o tempo mais frouxo e menos corrido.

Para que as crianças têm férias? Se for para ficar em casa, vendo televisão o dia todo, mesmo que elas não reclamem, não será a melhor alternativa para elas.

Entre ter o tempo totalmente ocupado, ou, ao contrário, totalmente ocioso pode haver um acordo de meio termo. Os extremos e os opostos em geral não servem à educação, nem à vida feliz.

Acreditamos que o horário da manhã, antes do sol ficar escaldante, seja um período nobre para brincadeiras ao ar livre: em pracinhas, plays, clubes, nas ruas onde isso é possível. Os corpos saudáveis exigem alguma dose de sol para fixar as vitaminas, para os ossos etc. Brincar de manhã, ao acordar é muito bom para elas. Com o calor do verão, depois do almoço as crianças devem ter abrigo para brincar ou para tirar uma soneca, os que gostam.

Sabemos da complexidade que é delegar as crianças a outras pessoas, em horário integral. Os pais que têm seus filhos em creches, em geral, não dispõem de adultos para acompanhá-las também nas férias. Mesmo que a família decida por uma colônia de férias em alguma instituição, as crianças dependerão de alguém para acompanhá-las durante todo o dia. Quanto menor é a criança, mais complexa é a tarefa de encontrar alguém, apenas por um período, para cuidar e educar, na falta dos pais. Muitas vezes, nessas horas as vovós e as tias entram em ação, como uma alternativa doméstica.

O nosso sistema econômico dita comportamentos e modos de viver em que descanso e tempo livre soam ameaçadores, como situações desqualificadas. Criamos agendas para as nossas crianças tal como são as da maioria de nós, adultos. Acreditamos, ainda, naquele antigo ditado que associa estar parado e sem compromissos a uma noção antiga de vadiagem, de inutilidade, que criaria o risco de transformar “ cada cabeça numa oficina do demônio”, de pensamentos ruins ou errados. Muitos de nós fomos educados sob o paradigma de que ficar à toa, ter tempo livre e repousar fossem ações perniciosas. Hoje sabemos do equívoco contido nisso, além de defendermos que “sujeitos inteiros, integrados” precisem de um certo estado de tranquilidade, de sossego para que sejam feitas novas sinapses cerebrais, para que venham a ser estabelecidas novas relações entre desejos, limites e possibilidades e, também, para poderem sonhar.

Assim, ficar parado também é importante e pode ser altamente produtivo. Brincar sozinho, também. Poder sentar em almofadas e ler seus livros de literatura pode ser ótimo. Brincar com os amigos é maravilhoso. Viver a soltura do tempo e dar férias às agendas é fantástico e necessário.

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