A Classificação Indicativa na internet e a proteção dos direitos da infância
Por Desirée Ruas – Jornalista e cocriadora do movimento BH pela Infância
Quando uma criança consome um alimento, um produto ou um conteúdo, ela está nutrindo a sua saúde física e psíquica, construindo o seu repertório pessoal, formando valores e sua visão de mundo. Por isso o tema do consumo na infância é tão crucial. Apesar de todas as incríveis possibilidades que o mundo conectado pela internet proporciona temos que concordar que o desrespeito aos direitos da infância também é uma consequência desse processo. Afinal, o que temos feito para que as crianças e adolescentes fiquem longe de conteúdos que desrespeitam o seu nível de compreensão e desenvolvimento?
Quando permitimos que uma criança tenha contato com determinados textos, fotos ou vídeos, estamos contribuindo para a adultização da infância. E a criança tem o direito de viver em um ambiente que preserve o seu desenvolvimento físico, mental, social e emocional e de ser protegida de forma integral. Cabe a nós, adultos, encontrarmos ferramentas que nos ajudem no cuidado com a infância.
A discussão sobre a implementação da Classificação Indicativa para a internet sinaliza que estamos começando a nos movimentar para a proteção da infância no mundo virtual. Mas o caminho é longo. Como o sistema de Classificação Indicativa vai funcionar na internet é uma grande interrogação. Os conteúdos ultrapassam as fronteiras e a internet é marcada pela ausência de controle. Qualquer um pode produzir o que quiser e divulgar. Mas já é hora de questionarmos o que os gigantes da Web têm feito para proteger as crianças e os adolescentes de conteúdos inadequados.
A Classificação Indicativa em vigor hoje no Brasil leva em consideração os apelos sexuais, violência e consumo de drogas presentes em cada obra. Aquele quadradinho colorido no início da novela ou na capa do DVD é resultado de um longo processo democrático de debate que movimentou muitos setores da sociedade. Ele sinaliza o cuidado que devemos ter com a infância também com relação ao consumo de conteúdos.
A Classificação Indicativa, como o próprio nome diz, apenas indica. Quem continua decidindo são os pais, as mães e os responsáveis. Mas sem nenhuma informação, como as famílias vão poder definir? O acompanhamento de perto por parte dos adultos vai continuar sendo necessário, sempre. E o debate sobre a melhor idade para que a criança possa navegar livremente pela internet permanece válido, mesmo com o uso de filtros de controle e a presença do sistema de Classificação Indicativa. O tempo que se passa em frente às telas e o tempo que se deixa de brincar e movimentar também vão continuar sendo questões essenciais para as famílias.
Foto: Arquivo Rebrinc
* Saiba mais sobre a colunista Desirée Ruas
Sou jornalista, especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade, educadora ambiental, palestrante e ativista da infância. Sou cocriadora do movimento BH pela Infância. Atuo como multiplicadora em educação para o consumo desde 2004 divulgando temas como educação, mídia, cidadania e sustentabilidade. Moro em Belo Horizonte e faço parte da Rede Brasileira Infância e Consumo desde sua criação. Na Rebrinc pude me conectar a pessoas e movimentos que informam, refletem, questionam e inspiram pela construção de uma cultura do cuidado e da paz, pela infância e por todos nós.
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Texto feito especialmente para o site da Rede Brasileira Infância e Consumo, Rebrinc. Caso queira reproduzi-lo, pedimos que mencione a fonte e o autor, com link para o site. Ajude-nos a valorizar os autores e a divulgar o nosso trabalho pela infância.