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Isso não é uma apologia à pobreza, mas um convite à moderação

Isso não é uma apologia à pobreza, mas um convite à moderação

 

Por Corinne Julie Ribeiro Lopes* – Advogada e gestora social

“Ou você é feliz com pouco, com pouca bagagem, pois a felicidade está em você ou não consegue nada. Isso não é a apologia da pobreza, mas da moderação. Só que inventamos uma sociedade do consumo e a economia tem que crescer ou acontece uma tragédia. Inventamos uma montanha de consumos supérfluos.” (MUJICA, 2015)

Quanta sabedoria está contida nesses breves dizeres de Muijca, ex-presidente do Uruguai. Quando alguém contesta o acúmulo ou o consumo exagerado, as pessoas se armam dizendo o que se está a fazer é uma apologia à pobreza. Se for entendido como pobreza não ter um celular de última geração, um armário entupido de roupas… Mas o que se gasta é tempo de vida. Quando compro algo ou você compra, não pagamos com dinheiro, pagamos com o tempo de vida que tivemos de gastar para ter aquele dinheiro. Mas tem um detalhe: tudo se compra, menos a vida. A vida se gasta. E é lamentável desperdiçar a vida para perder a liberdade e uma série de eletrodomésticos dos quais você nem se lembra de usar, sim, isso pode ser considerado uma apologia à pobreza. Mas se o conceito pobreza for tratado de uma forma um pouco mais profunda, isso é chamado moderação. Logo, depende de que pobreza se está a falar. Há vários tipos de pobreza e não só um conceito, como se depreende do estudo da literatura atual.

Fundamentado em trabalhos de Sem e Narayan, Crespo e Gurovitz (2002, p11) afirmam que “a pobreza é um fenômeno multidimensional em que há a falta do que é necessário para o bem-estar material. Associa-se a esse conceito a falta de voz, poder e independência dos pobres que os sujeita à exploração; à propensão à doença; à falta de infra-estrutura básica, à falta de ativos físicos, humanos, sociais e ambientais e à maior vulnerabilidade e exposição ao risco.”

Também dimensional é o conceito de desenvolvimento econômico, que não pode ser somente atrelado ao crescimento econômico. Hoje, o movimento deve ser por uma maior igualdade econômica. Não adianta diminuir a pobreza, se cada vez mais for aumentado o fosso entre os que possuem menos e os que possuem mais. Isso é o que deve inquietar. É esse fosso cada vez maior entre as pessoas que fomenta essa tão complexa e violenta sociedade.

Para além do dinheiro, quando se consomem supérfluos (dentro de uma margem razoável do que seja isso), se gasta vida e tempo de vida, pois para a maior parte da população brasileira, o dinheiro é fruto de muito esforço e horas de trabalho!

Imaginem vocês que já há smartphones que custam em torno de R$4.000,00 e que, fazendo uma conta bem simples, esse valor é mais que o salário mensal de grande parte dos trabalhadores brasileiros… Talvez toque na cabeça das muitas pessoas que se endividam para comprar esse pequeno bibelô, aquela musiquinha singela de uma famosa loja de departamentos: “que tempo bom, com 60 pra pagar…” É isso aí, trabalhe 60 dias para pagar tudo aquilo que deseja e que você só vai usar em um dia, em alguns dias do ano, em poucos meses…

Há ainda o contraditório de que a vida só se gasta, não se compra! Não há sentido algum ganhar rios de dinheiro e não se ter tempo, nem saúde para aproveitá-lo.

É lamentável desperdiçar a vida, se prendendo a um consumo vazio!

Por um tempo melhor aproveitado! Viva a moderação!

 

Publicado em 20/11/2015

balao_corinne * Saiba mais sobre a colunista Corinne Julie Lopes

Meu nome é Corinne Julie. Sou de Conselheiro Lafaiete, moro atualmente em Belo Horizonte mas já visitei e morei em outros mares e montanhas… Assim como o significado do meu nome, sou cor, magia e alegria. Amante de livros, fotografias e boas viagens, encontrei na Rebrinc, espaço para algumas inquietações minhas. Sou advogada, gestora social e mediadora de conflitos. Sócia-fundadora do CEDECA MG (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente) e mestre em Educação, Gestão Social e Desenvolvimento Local. Acredito que boas ideias e várias atitudes podem mudar o mundo.

Fale com a autora: contato@rebrinc.com.br

Texto feito especialmente para o site da Rede Brasileira Infância e Consumo, Rebrinc. Caso queira reproduzi-lo, pedimos que mencione a fonte e o autor, com link para o site. Ajude-nos a valorizar os autores e a divulgar o nosso trabalho pela infância.