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Deadpool: respeitem a classificação 16 anos e não levem as crianças

Deadpool: respeitem a classificação 16 anos e não levem as crianças

 

Por Débora Figueiredo* – Graduada em Filosofia e mestranda em Psicologia

Diante de tanta repercussão eu fui ao cinema para assistir ao filme Deadpool. Li textos e apelos em páginas como Pac Mãe e Milc alertando para o fato de que muitos pais estão levando seus filhos para ver esse filme. Fiquei assustada logo ao saber que a classificação indicativa era “não recomendado para menores de 16 anos” e resolvi ir lá ver com os próprios olhos do que se tratava. O filme começou e fiquei me perguntando por muito tempo o porquê de tantas risadas. De repente parecia que eu era apenas uma pessoa rabugenta e chata num filme aparentemente engraçadíssimo.

Normalmente quando filmes hollywoodianos são dublados nem todos os palavrões são traduzidos. Esse não. Esse não só traduzia todos como adaptava-os ao nosso vocabulário. A palavra “baitola”, por exemplo, surgiu aqui no Ceará, na continuação da avenida onde eu moro. Quando vi nas redes sociais que os pais estavam levando os filhos para assistir a esse filme, cheguei a imaginar as crianças fortalezenses rindo. É muito comum vê-las usar essa palavra uns com os outros por aqui. O Ceará é um estado extremamente machista, devo dizer, embora com pesar. “Baitola” nada mais é do que uma palavra depreciativa para pessoas homoafetivas. Ou seja, nossas crianças naturalizam o ato de ridicularizar o outro, tomando isso como algo engraçado e que deve ser feito.

Fora a quantidade de palavrões, vi pessoas consumindo, se divertindo e banalizando atos violentos durante todo o filme. Como estamos insensíveis… A violência é muito bem vendida na nossa sociedade. Vemos violência nos filmes de ação, nos filmes de suspense, nos filmes de aventura, nos filmes de comédia e até em romances. Vemos violência nas séries brasileiras e nas séries estrangeiras. Vemos violência na novela das 8h, das 7h, das 6h e até na Malhação. Vemos violência no Bom dia Brasil, no Jornal Hoje, no Jornal Nacional. Vemos que programas policiais sobrevivem da violência, tantas vezes desrespeitando o sofrimento da família da vítima. A violência, portanto, tornou-se comum, aceitável. E, levando nossas crianças ao cinema, estamos possibilitando que desde cedo elas já passem por esse processo de aceitação da violência como algo corriqueiro. É triste. No filme, o público é levado a ser simpático ao cara que faz vingança, ao cara que coleciona assassinatos e que passa o filme reforçando a mensagem de que isso tudo vale a pena por 1) ter ficado com aparência feia e 2) por achar que a mulher que ele ama não vai amá-lo se ele for do jeito que é.

No mais… mais um filme hollywoodiano. Tão escrachado quanto muito filme brasileiro. Muito mais ou muito menos violento, mas violento. Muito mais ou muito menos superficial, mas superficial. De todo modo, sem dúvida danoso a crianças. Com muita violência e cenas de sexo. Mesmo as crianças que conversam com os pais sobre tudo. Mesmo as crianças que são orientadas. Aquela classificação indicativa (16 anos) não está lá a toa. Que, então, possamos levá-la a sério.

 

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Você sabia que:

O Supremo Tribunal Federal retomou, em 5/11/15, o julgamento da ADI 2404, que busca revogar o art. 254 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990). O texto prevê multa para as emissoras que desrespeitarem a Classificação Indicativa dos programas de televisão, veiculando conteúdo em horário não apropriado. O julgamento havia sido paralisado em novembro de 2011, após pedido de vistas do então ministro Joaquim Barbosa.

A ação direta de inconstitucionalidade, movida pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), a pedido das emissoras de radiodifusão, defende a tese de que a vinculação horária da programação a faixas etárias para as quais seriam recomendadas representa uma violação à liberdade de expressão das empresas. Sem as multas, a Classificação Indicativa perde sua força e os direitos da infância e da adolescência serão desrespeitados.

Saiba mais em Classificação Indicativa em risco.

 

Publicado em 19/02/2016

Imagem: Pac Mãe

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Colunista Rebrinc

 

* Saiba mais sobre a colunista Débora Figueiredo:

Possuo um nome que faz referência a um bichinho e uma super árvore: Débora, que significa abelha, em hebraico; e Figueiredo, que faz referência às figueiras. Amo a natureza, embora viva numa metrópole lotada de obras, carros e prédios: Fortaleza, tão linda quanto frágil. Sou graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará e atualmente faço mestrado em Psicologia com o intuito de entender um pouco sobre as consequências que podem surgir a partir do contato dos pequenos com as novas tecnologias. Antes de ingressar no mestrado, fui professora de Filosofia por três anos em uma escola pública militar e foi essa experiência que fez com que eu despertasse interesse por temas como infância, consumo e novas tecnologias. Sou fruto de uma infância sem hambúrgueres, brindes, cinema e brinquedos em excesso, mas com muita rua, esconde-esconde, pega-pega e amarelinha. Eu também faço parte da Rebrinc e espero poder continuar contribuindo e aprendendo cada vez mais com a Rede.

Fale com a autora: contato@rebrinc.com.br

Texto feito especialmente para o site da Rede Brasileira Infância e Consumo, Rebrinc. Caso queira reproduzi-lo, pedimos que mencione a fonte e o autor, com link para o site. Ajude-nos a valorizar os autores e a divulgar o nosso trabalho pela infância.

2 Comments

  1. Débora, que alívio ler seu texto. Sou mãe de um garotinho de 8 anos e me sinto um peixe fora dágua, uma verdadeira extraterrestre, quando abordo entre as outras mães meu espanto ao saber que crianças estão assistindo esse (e outros filmes) e jogando jogos como GTA…obrigada pelas palavras tão bem colocadas nos alertando e acordando da hipnose em que parece estarmos vivendo.

    • Obrigada pelo comentário. Acho que muita gente se sente como você, Fabiana! A Rebrinc é muito importante por isso, por percebermos que não estamos sós. ♡ Débora Figueiredo

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