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Eu não trabalho para dar tudo o que você quer, meu filho

Eu não trabalho para dar tudo o que você quer, meu filho

 

Por Silvia Adrião – Integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo

Não, eu não trabalho para dar tudo o que você quer. Não seria justo com você. Não seria bom para você. Dar a você o poder de conseguir “tudo” o que quiser (falando de bens materiais) seria uma forma de deixá-lo sempre insatisfeito com o que tem. Uma forma de esvaziá-lo de valores fundamentais. Seria uma forma de enganar você sobre as dificuldades da vida. Seria injusto porque lhe tiraria o direito de sentir aquela realização prazerosa quando conquistamos algumas coisas que foram demoradas para conquistar. Seria injusto porque o transformaria em um indivíduo cheio de coisas e vazio de experiências e de sensações que enriquecem verdadeiramente a vida. Não seria positivo para você conseguir tudo assim, tão facilmente, pois lhe tiraria o poder transformador que só as adversidades e a capacidade de criar e se adaptar com o que temos trazem. Eu não quero isso para você.

Acima de tudo, trabalhar para poder dar tudo o que uma criança quer é em si uma grande inversão de valores. Porque, se chegarmos bem perto, se nos permitirmos escutar o que a criança realmente quer, saberíamos que não estamos falando de coisas. Criança, na sua essência, não quer telefone, vídeo game ou bonecas caras. Criança quer companhia, quer natureza. Criança quer encontrar com outras crianças. Crianças querem a chuva e o bolinho de chuva. Querem o vento, folhas, gravetos e muita lama. Querem um mergulho no mar, cavoucar a na areia e comer pipoca. Criança quer histórias de medo, lamber a massa do bolo e brincar de pega-pega. Quer colo e cafuné.

Se eu pudesse, trabalharia menos, aí sim poderia lhe dar exatamente tudo o que você quer. Mas esta é uma outra reflexão que fica para um outro dia.

 

Colunista Rebrinc - Silvia Adrião

Saiba mais sobre a colunista Silvia Adrião:

Sou pedagoga, especialista em Construtivismo/Educação e Mestre em Sociologia da Educação.Tenho mais de 20 anos de experiência no trabalho com crianças e na defesa da cultura infantil. Sou pesquisadora e apaixonada por Literatura infantil e pela abordagem de ensino Italiana de Reggio Emilia. Encontrei na REBRINC um espaço para ampliar o debate e o alcance das reflexões sobre infância.

Fale com a autora: contato@rebrinc.com.br

20 Comments

  1. Sensacional

  2. Adorei! Sou médica e moro em Porto Alegre. Fui criada no interior e nos finais de semana ia pra fazenda. Meu filho vai pra Escola infantil e eu moro em apartamento. Com a violência de POA está ainda mais difícil o contato com a natureza. Virei fã da Reggio Emília após ficar fanática pelo documentário O Começo da Vida! Faço um trabalho mental muito grande para não me sentir tão culpada de correr tanto pra ficar com o meu filho e quando esse momento chega eu estou exausta. Como lidar com tantos medos e culpas…?

  3. Perfeita colocação!
    Ah! Como seria bom se todos os pais pudessem ter essa perspectiva da da vida!!!
    Parabéns!

  4. Ótima Reflexão Acerca da Sociedade que Conjuga o Verbo Ter e Por Vezes Esquece de Ser!!!

  5. Muito bom o texto. Se todos os pais tivessem essa consciência não teríamos tantos filhos perdidos pelo consumismo!

  6. Excelente texto. Infelizmente hoje já temos uma – ou mais – geração completamente mimada e sempre insatisfeita. Moro em Florianópolis e trabalho levando pessoas – e crianças – para a natureza. Faço trabalhos particulares com crianças aqui no sul da Ilha de SC. Os pequenos realmente amam estar na natureza. Grato.
    http://www.aventurazen.com.br

  7. E quando se percebe que ele.ja tem tudo que.precisa e não valoriza ? Como reverter ?

  8. Que perfeito isso!

  9. Leitura obrigatória para pais/mães, avôs/avós, madrinhas/padrinhos….

  10. Perfeito! Os desafios, a busca pelos ideais , os quereres da humanidade. Tudo está interligado. É preciso sapiência para lhe dar com a contemporaneidade , suas ofertas e seus perigos. Por outro lado, os benefícios são muitos. Pra mim a grande questão é o equilíbrio.

  11. Maravilhoso já fiz isso no passado e me arrependo de não dar mais amor carinho e atenção aos meus filhos quando eram pequenos

  12. De acordo com o texto a 200%!!!
    Sou mãe e, tento implementar esta forma de “ser mãe” com os meus filhos e, posso assegurar que vale a pena!
    “Ser mãe/pai” é bem mais importante do que “Ter mãe/pai”.
    Bem haja pelo seu trabalho nesta área!

  13. Gostei muito do artigo.

  14. Excelente reflexão! Eu já não trabalho para da tudo o que não pude ter quando criança. Sei bem o que é não ter a mãe por perto quando mas precisa,chorar só com saudade dela e sentir um vazio tão grande. Minha mãe foi obrigada a trabalhar para sustentar 3 filhos,pois meu pai como muitos nos abandonou ainda criança.E não foi fácil para nós. Mas hoje sei a importância dos pais para uma criança, e hoje não trabalho para da tudo que eles precisam.

  15. Me pergunto se alguém que acha positivo este texto pode dar tudo que seu filho quer.

  16. Tudo que meus filhos querem e precisam sou eu mesmo.

  17. perfeito…se as crianças de hoje realmente NÃO quisessem iphones…ipads…e viagens caras…. tento diariamente reverter isto nos meus… e digo…é muuito difícil!!

  18. Oii eu posso compartilhar esse texto… Queria saber o autor para dar os devidos créditos..?

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